quarta-feira, 11 de agosto de 2021

RESENHA DO LIVRO: "Forasteiros - Crônicas, vivências e reflexões de um torcedor visitante" de Rodrigo Barneschi



Acabei de ler "Forasteiros - Crônicas, vivências e reflexões de um torcedor visitante" de Rodrigo Barneschi (Editora Grande Área - 272 páginas), Barneschi é palmeirense, para escrever um livro assim, precisa torcer pra um time, o do autor é o mesmo Palmeiras que eu torço, logo rola uma simpatia pelas histórias e lembro que também sofri, em muitas das derrotas narradas, não tem time que só ganhe, nem torcedor que só comemore. Mas sem clubismo, "FORASTEIROS" é um grande livro, no mínimo obrigatório para qualquer torcedor, de qualquer time. Aliás, o autor tem o mérito de não ser ofensivo e até respeitoso quando fala de adversários e suas torcidas, ponto pra ele e pro livro.
Antes de fazer comparações entre eu como torcedor e o Barneschi, deixo claro que apesar de eu ter "estreiado" como Forasteiro, não existe qualquer tipo de comparação possível, eu vi no máximo um centena de jogos do Palmeiras "ao vivo", maioria na capital. O autor de Forasteiros já "girou a catraca" mais de 1.000 vezes, em 79 estádios, de 10 países.
EU já vi jogo em 12 estádios, são eles, Estádio Palestra Itália (hoje Allianz Parque), Morumbi, Pacaembu, Canindé, Rua Javari, Joaquinzão (Taubaté-SP), Brinco de Ouro (Campinas-SP), Dr Novelli Junior (Itú-SP), Maracanã e São Januário, ambos no (Rio de Janeiro-RJ), Estádio Independência (Belo Horizonte-MG) e La Bombonera em Buenos Aires na Argentina, minha única experiência internacional.
Minhas histórias dariam um livro e devo lançar em breve "Palmeiras Minha Vida é Você".
Mas a vivência do Rodrigo Barneschi é infinitamente maior, o cara vive a partir do futebol e programa a vida, via tabela do Campeonato Brasileiro e Taça Libertadores.
Barneschi se apaixonou por torcida numa cena inusitada de infância, aos 9 anos, de férias com a família em São Vicente-SP no litoral sul, viu passar na rua três ônibus com santistas, com corpos pra fora do veículo, cantavam em festa "Eu eu eu, o Palmeiras se fodeu", após uma vitória do Santos em cima do Palmeiras, justamento o time do jovem torcedor que paralizou vendo a passagem daquela festa em cima de 4 rodas, ele havia horas antes, ouvido o jogo no rádio, mas aqueles forasteiros tinham desbravado a capital e traziam a honra e os 3 pontos para casa, eles não viram na TV, eles estavam lá.
Alguns anos depois o primeiro emprego deu a Rodrigo Basrneschi a "independencia financeira" para seguir seu time nos estádios, se filiou a Torcida Organizada Mancha Verde, a maior do Palmeiras e foram diversas caravanas, até uma emboscada da Torcida do Flamengo, que resultou num torcedor morto com um dos tiros desferidos contra os coletivos, poderia ser ele, deixou essas perigosas caravanas, mas seguiu indo aos jogos, não só em outros estados, mas em outros países da América do Sul.
Existe um grupo de torcedores que vão a jogos fora sem pertencer a organizadas.
Mas voltemos a mim, meu primeiro jogo foi fora de casa, em Taubaté, morei 2 anos no Vale do Paraíba, meu pai trabalhava na Volkswagen , numa ida do Palmeiras lá pelo Paulistão, eu vi a chance de ver meu time do coração pela primeira vez, tinha só uns 9 anos, morei sempre em São Paulo, mas meu pai nunca foi ligado a futebol, nunca tinha ido. Um amigo do meu pai, nosso vizinho e que também trampava na Volks, ia com o filho ao jogo e meu pai lhe pediu que me levasse. Combinamos de ficar na Torcida do Taubaté, segundo o pai do meu amigo era mais seguro, só não poderíamos comemorar se saisse gol do Palmeiras e saiu, foi 1x0, gol do Carlos Alberto Seixas (ou seria o Borges), o nome me foge, mas era anos 80. Estádio Joaquim de Morais Filho (Joaquinzão), em Taubaté-SP, primeira vez que vi um jogo ao vivo, lembro da pequena torcida do Palmeiras com no máximo mil pessoas, comemorando.
Na capital quem me levou ao estádio foi meu tio apelidado de Lagartixa, palmeirense nato. Fomos ao Pacaembu, num daqueles Palmeiras x Corinthians, com torcidas meio a meio. Logo na estréia minha em São Paulo, um 3x0 pro rival, 3 gol dum tal de Emerson, eu acho.
Meu tio na saida do Pacaembu, falava que não era sempre assim, com medo que eu virasse a casaca, mas não tinha como, eu sou de 1972 e lembro das pessoas correndo alucinadas na rua de terra, esgoto a céu aberto no Jardim Olga no Itaim Paulista, o Paulista de 1976, eu preso dentro de casa, vi a festa pelo portão, me tornava palmeirense aos 4 anos.
Aprendi o caminho do Pacaembu, Morumbi e Estádio Palestra Itália, o popular Parque Antartica. Passei a ir sozinho, formei amigos de percurso, zona leste, estádios... me filiei a Mancha Verde também, mas diferente do Barneschi, não fui tão atuante na torcida, me juntava a eles mais na arquibancada mesmo. No início dos anos 90, encontrei uns cara vindo de um clássico, eles usavam camisas ITAIM PALESTRA, perguntei onde ficava, fui lá no bar que era a sede, me envolvi, com os palmeirenses ali e com o bar Tempo Livre, quase morei nesse bar, dormia lá. Foram alguns intensos anos... a Torcida Itaim Palestra não foi para frente e fundamos a Leste Alvi Verde que foi a que mais se destacou e cheguei a ser presidente, vendiamos muita camisa, fretavamos ônibus pros classícos no Morumbi, imagina a treta, levar e trazer de volta um busão de torcedor do Itaim Paulista no extremo leste, até o Morumbi, uns 60, 70 km.
Vivi intensamente os anos de 1992, 1993, 1994.
Voltemos ao Barneschi...
Diferente de mim, ele ia todo jogo, vários fora. Com o passar dos anos, Rodrigo Barneschi já num bom emprego, passou a viajar muito atrás da emoção de ver seu time nos mais diversos estádios e adversários, muitos são território hostil, onde o torcedor rival não é bem vindo, então quem vai em jogo fora, precisa saber o que fazer, onde ir, como se portar. Só tendo um bom emprego se consegue pagar o custo de tantas viagens, não fica barato essa paixão. Mas a sensação de trabalhar normal num dia, ver seu time em outro estado a noite e no dia seguinte estar de volta, como se nada tivesse acontecido, ouvir os comentários do jogo e pensar: - Eu estava lá.
Barneschi viveu muito isso, pelo que o livro traz, sua esposa passa a lhe acompanhar em algumas jornadas e ele deixa no ar, o que será dos seus dois filhos, hoje pequenos, seguirão sua saga, ou serão "pessoas normais".
Eu sei o que aconteceu com meu filho. Em 1996 foi o meu "último jogo" antes de dar um tempo por mais de uma década das arquibancadas, vi o Palmeiras ser campeão paulista de 1996 em cima do Santos num 2x0 no Palestra Itália, acompanhado da minha então noiva Marilda, nos casamos em 1998 e em 2000 nasceu meu filho Evandro. Devido aos vários sub empregos, me afastei dos estádios, tinha uma violência das torcidas, época de bombas caseiras e com o casamento, as despesas aumentaram e quando vi, já se passava mais de uma década, sem ver um jogo sequer desde aquele título de 1996, apesar de sempre acompanhar no rádio e TV, antes da internet.
Voltemos ao Barneschi...
O cara não só ia em todo jogo do Palmeiras, como arrumava tempo, disposição e curiosidade, para ir num jogo de outros times, nas torcidas forasteiras adversárias, em jogos nacionais, ficar na torcida do Vasco contra o Corinthians, de times sul americanos contra times do Brasil, uma experiência interessante, muitas vezes na Argentina, vendo jogos muito além do manjado BOCA e RIVER, times menores, até por vezes alertado a não ir.
Barneschi ama futebol, torcidas e estádios. Vê os jogos como vivência mesmo, experiência de vida.
Ele também encarava ser o forasteiro em clássicos na capital, antes da torcida única, quando a carga pro rival é de apenas 4%, cerca de 2.000 pessoas no Pacambu, com cerca de 38 mil do mandante. Ir escoltado e em comboio ver Corinthians x Palmeiras em Itaquera, esses jogos mais difíceis, eu nunca tive o hábito de ir.
Lembro do meu filho se tornando de vez palmeirense em 2008, sou grato ao Valdívia e aquele Paulista, por sacramentar que meu filho era porco, tem uma música da Torcida que me orgulha: - Todo amor que sinto por ti, eu vou passar pro meu filho. No meu caso, missão cumprida. E foi por causa dele querendo ir nos jogos, que voltei ao estádio, ou melhor, estádios.
Nosso primeiro jogo juntos foi em 2009, 2x1 no Palestra Itália, contra o Coritiba.
Passamos a ir alguns jogos, logo em alguns clássicos como mandante.
Meu filho sempre quis novas experiências e fizemos algumas coisas juntos, ir no interior, Palmeiras 3x0 Ituano, pegamos o carro e fizemos um bate volta, Itú é só 100km de São Paulo, tinha ido nos anos 90 numa volta do Edmundo depois de uma treta, no Brinco de Ouro contra o Guarani. Uma vez no RJ, fomos num Espanha 10x0 Taiti no Maracanã, Copa das Confederações 2013, em 2016 na campanha do ENEA, fomos de van com amigos que conheci no Dissident (no livro Barneschi fala dessa galera), até Minas Gerais, Atlético MG 1 x 1 Palmeiras, gol do Gabriel Jesus. E quando meu filho fez 18 anos, fomos comemorar vendo Boca Jrs 0x2 Palmeiras, em La Bombonera, gols de Keno e Lucas Lima. Esses dois últimos jogos fora que narrei, foi só dois que estão no livro Forasteiros do Barneschi, ele também estava nesses jogos.
Fico imaginando depois de ler o livro, como o Rodrigo Barneschi conseguiu ficar tanto tempo longe das arquibancadas com a Pandemia, um cara que ia a anos em jogos sempre. Depois de torcida rival ter cota, depois da vergonha que é torcida única, a Pandemia trouxe a torcida zero.
Eu ainda sonho com a volta, morrendo de saudade do gol norte. O Rodrigo Barneschi foi um dos privilegiados de que uma forma ou de outra, conseguiram estar presente a Final da Libertadores 2020, dia 30 de Janeiro de 2021, em jogo único contra o santos no Maracanã, está no livro.
Gostei muito do livro no geral, mas claro que gostei mais de algumas histórias, a já citada da infância. Ele não podendo entrar com uma blusa vermelha no Estádio do Inter em Porto Alegre, porque a cor do rival era proibida na torcida adversária, porque poderia ser usada pra por fogo e provocar. A camisa era para ele se camuflar na ida e volta, em meio aos colorados na rua.
E um Fuminense 3x0 Palmeiras em 2014, quando um "Stewards", tipo de moderador de torcida, reflexo da modernização do Maracanã e Copa do Mundo, o autor discute com um e passa a cultivar uma raiva, observa o cara de longe, mas aos poucos ele percebe uma aliança, o cara tem família, é só um emprego que ele arrumou, não é meu inimigo, no final ele se despede do cara em vez de brigar com ele. Monstra o tão sensível o torcedor Basneschi pode ser, um forasteiro nato, que conhece a fundo torcidas organizadas, mas nunca deixou esse sentimento de brigas e violência dominar seu coração, preferiu usar sua coragem para ir em jogos memoráveis, outros nem tanto.
Ele narra com bastante detalhes a batalhe de Montevidéu, na Libertadores de 2017, Penharol 2x3 Palmeiras, aquele jogo do Felipe Melo, capítulo imperdível.
Uma frustação minha em 2018, quando ia a São Januário na jogo do título brasileiro, num Palmeiras Tour terrestre, que foi cancelado e não pude ver a partida. Levou eu e meu filho a pegar um busão de rodoviária, ir pro Rio de Janeiro, passar o dia na Praia de Capacabana e a noite ver Vasco 1x2 Palmeiras, viver aquele ambiente da Barreira do Vasco, torcida aliada, pena que em 2019 e não no jogo do título de 2018.
Após terminar de ler o livro, me imagino tomando uma cerveja com o Barneschi na Caraíbas e jogando conversa fora, pena que o Dissident não tem mais a sede, seria o melhor lugar. Apesar de nos seguirmos no Twitter, não somos amigos, nem conheço pessoalmente o autor, mas temos amigos em comum, como o Fernando Borgonovi e com certeza uma paixão em comum, o Palmeiras.
Tudo bem que perto do Basrneschi, eu sou só um torcedor de rádinho.
Alessandro Buzo

Literatura (é) a Cura.

Acabei de ler "Forasteiros - Crônicas, vivências e reflexões de um torcedor visitante" de Rodrigo Barneschi (Grande Área - 272 páginas), Barneschi é palmeirense, para escrever um livro assim, precisa torcer pra um time, o do autor é o mesmo Palmeiras que o meu, logo rola uma simpatia pelas histórias e lembro que também sofri, em muitas histórias de derrotas narradas, não tem time que só ganhe, nem torcedor que só comemore. Mas sem clubismo, "FORASTEIROS" é um grande livro, no mínimo obrigatório para qualquer torcedor.
* Esse texto segue, numa resenha.
Dito isso, só meu quinto livro lido em 2021, uma falha sem desculpa, preciso ler mais, como escritor e dono de livraria, minha obrigação melhorar até o final de 2021 a média, no mínimo os 11 livros de 2020, que já foi pouco.
Alessandro Buzo
escritor