sábado, 4 de junho de 2011

CASA FLORES.....uma visita emocionante e inesquecível

Texto: Alessandro Buzo
Fotos: Marilda Borges





Hoje (sábado, 04 de junho de 2011) estive no bairro de Flores, periferia de Buenos Aires, Argentina.
Fui fazer uma palestra na CASA FLORES, orgão público que cuida de jovens em recuperação pelo uso de CRACK que aqui chamasse PACO.
Nunca vou esquecer esse dia. Cerca de 15 jovens em recuperação acompanhados de pai, mãe, esposa.
Fui apresentado e depois eles se apresentavam, foi o primeiro momento de emoção, quando cada um dizia NOME, idade e quantos dias (ou mesês) estavam ser usar crack.
Ou quando dizia: - Sou tal pessoa, mãe dele. E apontava pro filho ao lado.
Vi que ali minha trajetória de superação e o fato de eu já ter sido usuário de COCAÍNA e MESCLADO (Crack com maconha) poderia ser de fato útil pra eles.
Comecei a falar, valorizando a família que estava presente, falando de minha vida e dificuldades, como cheguei a literatura, como era difícil 11 anos atrás, como larguei as drogas (graças a família, hip hop e literatura), falei por uma hora e meia, em português (PAUSADAMENTE), assim eles compreendiam, quando não a Lúcia Tennina traduzia.
Um jovem que falou e por acaso resolvi dar o livro PELAS PERIFERIAS DO BRASIL – VOL III, depois fiquei sabendo que ele nunca falava nas atividades.
Outro logo na chegada me disse: - Não queria te receber por ser brasileiro, por causa de futebol (torcedor do BOCA), ao final éramos amigos.
Depois dessa intimada antes de começar abri dizendo que NOSSA RIVALIDADE era só dentro de campo, que eli e nas ruas éramos todos hermanos.
Várias vezes durante minha fala , sobre meus livros, como e quando lancei cada um deles, sobre PELICULA (como eles chamam filme), sobre FAVELA TOMA CONTA e TV Cultura, várias vezes me aplaudiram.
Alguns participaram com perguntas, inclusive pais e mães.
Lendo o texto SELVA DE PEDRA com tradução da Lúcia me emocionei numa parte e quase chorei, me controlei.
Na sala se criou um ELO, um sentimento de que eu estava sendo importante pra eles.
Falei, falei e falei, eles participaram ativamente e ao final éramos como velhos amigos, muitos abraços (e beijos, normal aqui homem beijar o rosto de outro), além de fotos.
Colocaram uma mesa com farturas e todos comemos antes de eu partir, prometendo que se um dia voltar a Buenos Aires, ir de novo visitar eles.
Foi em 10 anos de carreira um dos momentos mais importantes pra mim, um momento que irei guardar em minha mente e coração.
Como disse pra eles......com minha trajetória não poderia vir a Argentina apenas pra fazer turismo, era preciso estar em lugares como a CASA FLORES, era importante pra mim estar com eles.
Naquela sala, se minhas palavras não fossem verdadeiras, eles saberiam, porque são escolados, foram formados na faculdade da vida.
Uns tem 1 mês sem usar crack, outros dois meses e três dias.....aplausos aos recordistas....
- Faz 5 mesês que não uso.
E o maior de todos entre eles: - HOJE faz 6 mesês que não uso.
Precisava ver a alegria deles em tirar fotos comigo no final, surgiram celulares de todos os lados.
Outros diziam que iriam me adicionar no Facebook, enfim.... querem manter contato.
Disse a eles que se escreverem textos e enviarem pra Lúcia Tennina (que se prontificou), era traduziria e eu publicaria no BLOG (www.literaturaperiferica.blogspot.com) muitos disseram que irão fazer.
Outra coisa, vão fazer um SARAU e me mandar fotos.
Hoje o dia me reservou esse momento de poder com meu trabalho ser a diferença na vida de alguns deles.
Queriam ao final me agradecer, mostrarem que tinham gostado.
A direção da CASA deu de REGALO (presente), um colete de lã pra Marilda, feito pela mãe de um dos jovens.
Parece que Flores faz parte da minha vida para sempre.
Mui gracias.....
Alessandro Buzo
www.buzo.com.br







Marilda ganhou presente, colete de lã verde












Buzo e uma das coordenadoras do espaço


CASA FLORES, vou levar no coração

Buenos Aires, Argentina
sábado 04 de Junho de 2011

4 comentários:

  1. Lindooooo Buzo!!!
    É lá os caras tem a sua sexualidade em resolvida, beijam mesmo no rosto, se abraça, pois eles sabem que não é isso não vão influencia em sua orientação sexual... Diferente da maioria dos homens aqui no Brasil, que não tem a sua sexualidade definida e se de repente abraçar e cumprimentar um cara com um beijo no rosto podem gostar e descobrir que são na verdade homossexuais rsrrsrs
    Meeedaaaa!!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Muito bom, Maquinista!
    Que relato maravilhoso, Buzo!
    Emocionante!
    Parabéns pela sensibilidade humana de estar lá e de saber trasnspor a experiência num texto tão Bonito!!
    Nelson Maca

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