T.R.A.B.A.L.H.O.

Por: Alessandro Buzo

A partir do momento que deixei a uns 4 anos atrás meu ultimo "emprego" num atacadista de alimento onde eu era vendedor, que a CULTURA não era mais entretenimento, era trabalho.
Decidi viver só dos meus corres culturais e era um risco, porque não era possível dizer que daria certo.
Se dar certo é pagar suas contas em dia e ainda poupar uma merreca de vez em quando, posso dizer que deu certo.
Não que fiquei rico, muito longe disso acontecer. Mas pra um cara como eu que nasceu sem berço de ouro, que já usou droga até umas hora, que já teve pessimos empregos, que já pegou muito trem lotado na zona leste de SP, que só andava endividado, até que a situação atual é de total motivo de comemorar.
Hoje tenho uma empresa (Suburbano Convicto Audio Visual e Com. Ltda), pago tanto as minhas dívidas como as da empresa em dia. Com muita luta, diga-se de passagem.
Mas pago e tento guardar um pouco sempre que consigo, porque o sonho da casa propria que me perseguiu a vida toda ainda está sendo o sonho da minha vida. Hoje vejo perspectiva de se realizar, sei lá.... daqui um ano.
Trabalho muito, claro que poder trabalhar com que a gente gosta quase não é um trabalho.
Que diferença a gente pegar trem lotado mês inteiro, aguentar patrão, gerente, clientes, pra no final do mês mal receber R$ 1.000,00.
Hoje quando pinta uma palestra no Rio de Janeiro, avião ida e volta, hotel e cachê de 2 mil. Vou reclamar da vida.
Mas colho hoje o que plantei em 10 anos de carreira.
Porque nada caiu do céu e continua não caindo.
A 5 anos atrás eu tocava minha carreira e trampava de empregado no atacadista, num viajava de deixar minha família zuada pra pagar de artista.
A 4 quando larguei o trampo, amigos de trabalho me perguntavam: - Você ta maluco ?
Acreditei antes de todo mundo. Hoje tenho uma Livraria no Bixiga que também é meu escritório, tenho um quadro na TV Cultura desde 2008, vou lançar meu oitavo livro. Enfim..... se isso era dar certo.
Mas sei que em 2001, 2002, 2003.... quando eu estava extremamente endividado e de saco cheio do sistema, a vida que eu levo hoje é mais que um sonho.
Só não esqueço cada veneno que paguei nesta vida (trem lotado, patrão, salário, drogas, pai ausente), pra saber valorizar cada conquista agora.
Hoje a Zona Cerealista pra mim é só onde tenho minha C/C e onde faço compras, porque vários anos trabalhando ali, peguei um gosto refinado das coisas e só ali é possível comprar a preço justo, compro queijos, azeites, azeitonas, cerejas, pinga de salinas, frutas secas, alcaparra e outros quitutes que me dou ao luxo porque sei onde comprar "barato", ou pelo menos no preço que cabe no bolso.
Minha vida hoje é de luta, muita luta.
Mas o prazer de já ter conhecido 10 estados do Brasil (RJ, MG, RS, BA, CE, ACRE, PR, GO, DF, MA) e ter ido a Buenos Aires recentemente, não tem preço.
Lembro eu indo a pé pra Estação do Itaim Paulista e via os aviões fazendo a curva pela quebrada pra pousar em Cumbica e pensava: - Será que um dia ando num desses ?
Hoje Aeroporto é uma constante, não só eu mais vários manos do corre do Hip Hop e da Literatura, saiu uma foto minha na Revista da GOL e choveu gente que viu e deu um salve, sinal que rapa também ta viajando, trabalhando. Recebi um salve dessa foto de nomes como Emicida, Gerson King Kombo, Rashid, Ao Cubo, Diego NX Zero e outros.
Com tudo isso, não larguei a quebrada, não só a minha "Itaim Paulista" onde estou sempre, mas me tornei o cara das quebradas, só gravando meu quadro pro Manos e Minas da TV já foram mais de 60. Sempre espalhando novos links e possibilidades.
Sempre crescendo como pessoa, como escritor, apresentador de TV e eventos, cineasta. Estou sempre me reciclando e me profissionalizando, mas sem perder as raízes.
Eu sou favela desde quando não se chamava de comunidade.
Sou nascido e criado no Itaim Paulista, vi o bairro crescer e vi também muito descaso.
O futuro a Deus pertence, meta é volta pro Itaim Paulista com o Espaço Suburbano Convicto de forma PERMANENTE, sonho com isso e corro atrás de parceiros pra isso.
Outras coisas rolando paralelo, lançar pelo menos um livro por ano. Manter aberta a LIVRARIA SUBURBANO do Bixiga (uma luta), seguir na TV mostrando o cara cultural da quebrada. E sonhar.... com vôos maiores.
Quem diria que hoje eu teria como bancar 2 aluguel (casa e loja), convênio medico familiar, meu filho faz natação, inglês.
Sem pisar na cabeça de ninguém, sem usar as pessoas de trampolim, sem crescer o olho no sucesso de fulano, beltrano. Sem arrumar treta e deixando a porta sempre aberta por onde eu passo.
Porque a caminhada é dura. E quando a caminhada fica dura, só os fortes continuam caminhando.
Paz, saúde e sucesso a todos que sonham e trabalham pra realizar seus sonhos.

Alessandro Buzo
www.buzo.com.br