segunda-feira, 23 de abril de 2012
DESCOBERTA CULTURAL .... Por Flavi Andrade
Bairro do Bixiga, alguns metros após um viaduto que quase me fez perder o caminho. Nas ruas ao redor, bares, casas e a triste realidade de quem não teve muitas escolhas. Por hoje só resta estender as mãos e pedir um trocado. Para a bebida? Talvez, pois quando o ser humano é obrigado á despir-se da sua dignidade, é possível que seus olhos só vejam solução enquanto durar o efeito da próxima dose.
Poeta eu? Quem me dera! Mas bastou chegar próximo ao Sarau Suburbano Convicto, para eu relembrar que os versos escritos por mim, enquanto criança, não tinham nenhuma relação com o mundo tumultuado que enxergo nos dias de hoje.
Foi em meio à esta cena e várias lembranças, que finalmente consegui conhecer o Sarau Suburbano, que é comandado pelo escritor Alessandro Buzo, que atualmente também apresenta o quadro SP Cultura, no SPTV primeira edição, da rede Globo.
Conheci o trabalho dele em 2010. Culpa das noites de insônia, que me fazem ficar rodando de link em link na internet. Adorei saber que tinha gente da periferia gerando conhecimento para a própria comunidade. Daí veio a vontade de conhecer o sarau, que na época ainda acontecia no Bairro do Itaim Paulista. Meu lado correria da vida, nunca me deixou reservar um tempo para visitar o espaço, mas segui admirando a iniciativa.
Mundo pequeno, vida louca e sonhos antigos que se unem aos novos planos. Esta é a explicação mais cabível que encontro para algumas coisas. Enfim, dois anos depois e em época de TCC, mais um trabalho de Alessandro Buzo veio rondar minha admiração: o filme “Profissão MC”, produzido por ele, em companhia de Toni Nogueira. Em minha opinião, produção e história de fazer inveja pra muito roteiro milionário.
Mas voltemos ao Sarau, que funciona no mesmo espaço da livraria Suburbano Convicto, endereço para a boa e transformadora literatura marginal (na verdade, marginal é o conceito de quem não consegue aceitar que “o novo sempre vem”). Cheguei com aquela timidez que Deus me deu. Levei uma amiga que adorou e assim como eu, emocionou-se em vários momentos. É verdade que a poesia é das melhores, mas o que mais emociona, é ver que tudo ali, é um pedacinho do sonho de alguém que acreditou em si mesmo e que estende esta confiança para pessoas nas quais a sociedade não acredita.
Pontos altos da noite? Difícil dizer, afinal, como o próprio Buzo diz, sempre tem surpresa no Sarau. Na noite em que visitei, me deliciei com o lançamento do livro de Marcelo Nietzsche, com as poesias recitadas por Tubarão DuLixo (que também apresenta o Sarau ao lado do Buzo), Janaina, Caco Pontes, Akins Kinte, Geraldo, Mel Duarte, Jaime Matos, Galdino e Emerson Alcalde. Pude conferir um trechinho do som dos manos Pool e Luter, que estavam lá para lançar o CD "Hip Hop no Ar", coletânea que traz músicas de 17 grupos. Também teve a bela demonstração do Freestyle de responsa do Augusto, da Batalha da Leste. O som da RE.FEM, do Rio de Janeiro e os versos de WL. (Em breve vão rolar postagens com alguns nomes citados, aguardem)
Enfim, quando acabou fiquei assim, sem palavras. Mas com a certeza de que tem muita gente que mesmo contra a esperança, luta para criar um amanhã um pouquinho mais justo. Para terminar esta postagem, apodero-me de uma citação de Voltaire, sabiamente repetida nas descrições dos perfis de blogs de um tal Suburbano Convicto: “Todo Homem é Culpado do Bem Que Não Fez”.
Quer conhecer o Sarau Suburbano? Acontece todas as terças-feiras a partir das 20h00. Só colar lá na Rua 13 de Maio, 70. Uma dica: Não demore tanto quanto eu!
by Flavi Andrade
Alessandro Buzo / Foto: Reprodução Prus Mano.Com
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