sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Seguidores entrevistam Alessandro Buzo - PARTE II
* Em respeito a quem mandou pergunta, decidi responder as perguntas que chegaram depois das 50 que respondi anteontem.......
Vamos lá.......
Edvaldo Peres: Você está tendo um retorno que esperava, com os seus livros? Acho muito importante a literatura na sociedade.
Alessandro Buzo: Os livros me deram tudo que eu tenho.... explico..... é que minha vida passou a mudar (pra melhor) após eu lançar meu primeiro livro em 2000. Tudo bem que melhorar mesmo foi a partir de 2007, mas antes dos meus livros a vida era só trabalho, os livros trouxeram outros horizontes, viagens e outros trabalhos ligados a cultura. Não vivo diretamente de vender meus livros, mas vivo de tudo que venho a partir deles. Edvaldo, também acho muito importante a literatura pra sociedade.
Gíggia Valéria: Nas escolas de periferia ainda vejo que as crianças tem pouco acesso a livros, gibis, outros materiais de leitura, visto que poucas pessoas leêm nas famílias. Que tipo de trabalho você sugere para ser realizado nas comunidades mais carentes? Você acha que se deve investir mais nas crianças quanto ao hábito de ler, ou você tem visto nas comunidades em que são trabalhados os saraus que as comunidades se interessam e o interesse pela leitura cresce gradativamente?
Buzo: Olá Gíggia, com certeza onde tem sarau as coisas melhoram, mas ainda é muito pouco, ideal seria uma força tarefa pra fazer os livros chegarem aos pequenos, porque quando você pega o hábito da leitura, isso nunca vai te deixar. Quem lê não é manipulado, por isso que os governantes nada fazem, um povo cego e surdo é melhor.
Alexandre Perez: O que vc precisa para dar continuidade nesse trabalho de mostrar o valor e cultura de nossa periferia?
Buzo: Na TV um novo espaço, quando ao restante da minha obra, meus trabalhos, já tenho o que preciso, o dom da disposição.
Gui Pirituba Alexsandro Gonçalves : Sinto a falta de uma maior interação entre as iniciativas culturais. Existe muito o cada um por si, quando na verdade o barco é um só, mas cada um com sua característica, particular, individualidade, etc e acredito que a troca de experiências seria enriquecedor para todos.
Com o todo seu conhecimento sobre o tema, o que pode nos dizer sobre isto e se há iniciativas para que esta interação aconteça.
Buzo: Vejo essa troca por exemplo nos coletivos dos saraus, por exemplo, no meu sarau recebo pessoas que fazem outros saraus pela cidade, como o Ni Brisant (Sobrenome Liberdade do Grajaú), Raquel Almeida (Elo da Corrente, Pirituba), Emerson Alcalde (Slam da Guilhermina na Z/L), Roberta Estrela D´Alva (ZAP, Z/O), Manos do Sarau Pensamento Negro do Embu Guaçu, entre outros.... isso acaba sendo uma troca.
Sinto falta disso no RAP, o rapper só vai no evento quando é atração, poucos vão só pra prestigiar. É claro que a troca enriquesse, concordo com você
Oldach Borges: Conheço seu trabalho desde o favela toma conta dos sarau no itaim paulista, suburbano convicto, minha pergunta é o fato dos temas que você defende e representa que são as periferias você me diria que o fato de ter trabalhado na emissora de elite "globo" isso foi positivo do tipo portas foram abertas ou te rendeu dores de cabeça do tipo traidor do movimento se diz periferia e tem um bloco em tele jornal de uma emissora elite?
Buzo: Não sento isso não (traidor do movimento) até porque fiquei 3 anos na Globo e nunca mudei meu discurso, nunca deixei de mostrar a verdadeira cena cultural da periferia. O trabalho bem feito falou mais alto do que o blá blá blá do preconceito. Outra coisa, nunca deixei de fazer nada por conta do que iriam falar, até porque se eu estiver na pior, poucos desses (ou nenhum) vai estar junto pra ajudar. A Globo é uma potência e "usei" por 3 anos seu grande alcance pra dizer: - Na periferia tem cultura, não só tiro e crime.
Leandro Rodrigues: Apos 12 anos de sua morte, que o sabotage representa para o rap e a periferia?
Buzo: Representa demais, Sabotage era a prova que o RAP resgata, além disso não se fechava no seu gueto, mesmo a mais de uma década atrás ele ia na mídia, chegou ao cinema e se estivesse vivo, seria um dos lideres do movimento. Mas esses 12 anos fez dele um mito. Não tive muito contato com ele, mas me orgulho de ser amigo do Wanderson e Tamires, seus filhos.
Estela P Silva: Como você vê e trabalha por esse povo da periferia, tão sofrido, sem perder a compostura?
Buzo: Olha só Estela, EU NÃO CURTO FAVELA, SOU A FAVELA EM PESSOA, acho que é isso. Outra coisa é que não fui trabalhar com a periferia, eu sou da periferia, 100% Itaim Paulista, sempre...
Romerson Sousa: Sou do Jardim Damasceno...gostaria de saber sua opinião sobre o novo cd do Racionais mcs,vc acha que valeu vai levantar o Rap igual os anteriores...valeu mano abraço
Buzo: Achei o CD novo dos Racionais muito bom, é poesia da periferia, acho que só a repercussão que ele traz, ajuda a manter o Rap em evidência. Mas se eu fosse rapper, não iria pautar meu trabalho em cima dos lançamentos do Racionais, isso é lenda, na minha opinião.
Camila Fernanda Souza: Qual o maior aprendizado que resultou da experiência de estar dentro do jornalismo da emissora mais conservadora representando a voz de protesto da periferia?
Buzo: O aprendizado é que não devemos achar que não é possível.... alguns anos antes do meu quadro, certeza que o conteúdo que eu apresentei poderia ser taxado como impossível da Globo mostrar, impossível é pros fracos.
Osbamba Julio Cesar: LEMBRANDO DO PRIMEIRO FAVELA TOMA CONTA VC ESPERAVA CHEGAR ONDE CHEGOU E TER TODO ESSE RECONHECIMENTO
Buzo: O primeiro FAVELA TOMA CONTA foi em 2004, na rua da minha casa, eu numa dureza financeira de dar dó. Não imaginava nem fazer uma segunda edição, quanto menos chegar onde cheguei. Só fui fazendo acontecer..... sem me preocupar de onde isso ia chegar.
Lunna Rabetti Quais são os seus próximos desafios?
Buzo: Olá querida Lunna, os próximos desafios é dar continuidade nos trabalhos (Sarau, livros, livraria, favela toma conta), fazer mais filmes e quem sabe um novo projeto pra TV. Mas sinceramente, manter em andamento o que já tenho feito, já é muita coisa. O desafio é não desanimar com a falta de investimento.
Regiane Souza: Um bom dia Buzo....oque vç diz sobre a maioria sociedade racista?
Buzo: Só posso dizer que: - O Racismo é uma MERDA e o Racista é um BOSTA. É lamentável ainda existir isso no século XXI, ninguém é melhor que ninguém, todos somos iguais, quando morremos, seja da cor que for, todos vão pra sete palmos abaixo da terra. Aliás serve também pra pessoas como aquela arquiteta no Rio de Janeiro, parada por policiais e que arrotou toda sua ignorância, quando morrer não leva um real com ela no caixão.
Marcelo Berdinazzi: Qual a importância da leitura para as criancas periféricas ?
Buzo: Não acho que seja importante, é fundamental. Se a criança aprende a ler, vai ler a vida toda e isso vai mudar sua vida.
Maay A. Miranda: Para um desconhecido ,como você explica seu papel na sociedade periférica ? E se ele fosse contra ,como mostraria pra ele que todo trabalho seu foi e é válido?
Buzo: Não me preocupo com isso, pode torcer contra que só me motiva.
Poeta Loko: Na sua opinião o que falta para alguns grandes grupos abrirem um pouco de espaço para grupos do interior não para abrir concorrência e sim para somar junto?
Buzo: Acho que isso quem deve responder são os grupos. Acho que os grupos da capital de São Paulo também correm atrás de espaço e abrir pra outros é complicado, porque trazer grupos do interior, outros estados, geraria custos, quem bancaria isso ? É complicado..... mas repito, esse pergunta deveria ser aos grupos.
Confiança EC: O que vc pensa a respeito de pessoas do bem ( assim como vc ) entrar no cenário político
Buzo: Eu acho válido, queria ver representantes da cultura e projetos sociais candidatos, eu apoio. Quanto a eu ser candidato, tenho medo de não ter poder de mudar nada e ser mais um que só ganha bem e nada faz. O sistema é engessado e quem tenta mudanças acaba boicotado. As vezes penso eu me candidatar a vereador, mas temo me queimar.... não tive medo de me queimar indo pra Globo, mas entrar na política é mais complicado. Se eu um dia resolver, certamente vou ser uma pedra no sapato de quem nada faz e meus projetos iriam priorizar a periferia, em especial a cultura e o transporte. Você voltaria em mim ?
Alzira Camillo: Qual a importância de elevar a estima do povo da periferia para a TV?
Buzo: A alto estima em dia, faz a pessoa acreditar nos seus sonhos e isso muda a sua vida, é isso.
Tiopac Nunes de Souza: O que acha da democracia da comunicação da tv brasileira, ela nos contempla???
Buzo: Acho que está longe de nos contemplar........ o que tem de periferia na TV. Muito pouco..... fora quando traz todo um preconceito junto com o pouco que tem.
Thiago Fernandes: Você que já dirigiu um filme sem grana, sabe o que é não ter recurso pra para contar um história através do cinema. O que vc acha da Globo filmes? Que tem grana mais num tem história?
Buzo: Acho que a Globo Filmes tem grandes títulos, não podemos generalizar. Só acho que deveriam abrir pra novos cineastas e atores, trazer a periferia junto. Com o orçamento de muitos filmes, eu faria três.
Negro Leo: Você tem proposta de algum programa com sua cara, sua ideia, vai fazer algum? tem proposta de filmes ?
Buzo: Projeto de um programa pra TV eu e a DGT Filmes temos, é o "OCUPAÍ BUZÃO", falta é uma emissora acreditar. Projeto pra filmes tenho dois, falta é dinheiro pra realizar.
Pablo Gonzalez Castro: Tranquilo, isso do SPTV abriu muitos caminhos para você, agora é seguir em frente. Seu trabalho é excelente.
Buzo: Valeu Pablo, não foi uma pergunta né ? Obrigado por achar meu trabalho excelente.
(FIM)
Valeu a todo mundo que participou mandando sua pergunta....... NÓIZ Q TA, sempre.
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