Esse texto se chama
Meus contemporâneos.
Fazer parte de uma cultura, de um movimento, é de certo um grande feito. Acho que faço parte (sem ser MC, B Boy, graffiteiro ou DJ) da Cultura Hip Hop. E tenho certeza que faço parte da Literatura Marginal, sou um dos primeiros autores periféricos que conseguiu publicar.
Esse texto é uma homenagem aos meus contemporâneos, pessoas que tive o prazer e a honra de conhecer pessoalmente e que em algum momento ter feito um rolê junto, um trabalho.
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(1) Mano Brown - A pessoa que sempre admirei e fui fã se chama Pedro Paulo Soares, o Mano Brown.
Quando ainda nem era conhecido, tinha só lançado meu primeiro livro, descolei um endereço do Mano Brown no Jd Vaz de Lima na Zona Sul de São Paulo, mandei meu livro e algumas cartas, tive algumas respostas do Brown, por carta, postada por ele nos correios, guardo essas cartas e as que recebi do Dexter ainda privado de liberdades, como troféus. A poesia do Brown vai além, é muito complexo e ao mesmo tempo favela, talvez porque a favela seja realmente complexa. Encontrei o Brown em algumas situações, no Hutúz no Rio de Janeiro, e uma vez que fomos numa atividade do Dexter na Penitenciária Parada Neto, em Guarulhos. Também estive junto numa vez que ele foi fazer uma atividade na Fundação Casa Encosta Norte no Itaim Paulista, minha quebrada. Última vez que vi pessoalmente faz um ano, em Buenos Aires.
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(2) - Dexter, como citei ele duas vezes acima, vou falar logo do oitavo anjo, um cara de papo reto. Conheci por carta (e até telefone), quando ele ainda estava privado de liberdade, numa época antes do CD Exilado Sim, Preso Não. Conheci ele quando o 509-E chegava ao fim e ele queria produzir um CD de dentro da cadeia.
Um dia ele me pediu pra fazer uma Assessoria de Imprensa pra ele, fiz por um tempo. Quando eu dei entrevista no Provocações com o Abujamra, ele queria falar do Dexter, sobre porque ele foi preso, respondi: - Quando ele sair da cadeia você chama ele aqui e pergunta. Anos depois, Dexter foi sim no programa.
Pagando uma promessa de quando estava preso, Dexter foi no meu evento FAVELA TOMA CONTA no Itaim Paulista, quando saiu. Ainda pretendo realizar o filme Profissão MC 2 com ele de protagonista. Agradeço a paciência dele por o projeto não ter vingado ainda. Máximo respeito por esse mano, que faz acontecer, admiro isso.
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(3) Poeta Sérgio Vaz - Conheci o Vaz depois de ler uma matéria sobre a Cooperifa na Revista Rap Brasil, fiz contato e falava com o poeta por telefone, eu trabalhava feito louco vendendo alimento, morava no fundão da leste e ele era do fundão da sul. Admirava que ele só trabalhava com cultura, como era possível ? Me inspirou a anos depois fazer o mesmo. Fui convidado pelo Vaz a ir numa homenagem que o vereador Carlos Gianazzi ir fazer a Cooperifa no salão nobre da Câmara. Foi meu primeiro sarau, depois fui conhecer o sarau no Zé Batidão e frequentei por um tempo, momentos únicos, conheci muito amigos lá. Muitos momentos...
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(4) Ferréz - O Ferréz eu conheci lendo uma matéria de uma página sobre ele e o livro Capão Pecado, na Folha de S.Paulo. Como assim... um escritor no Capão Redondo ? É possível ? Se um cara do Capão publicou, eu no Itaim Paulista também podia, me inspirou a escrever meu primeiro livro. Na sequência conheci por telefone, ele disse que tinha visto meu livro ( O TREM ) na Livraria, perguntei qual, porque só tinha em UMA na cidade e ele falou justamente ela. - Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Senti firmeza. Conheci pessoalmente quando fui até o Capão Redondo, entrevistar o escritor na casa da sua mãeno Jd Comercial, onde na frente, tinha a primeira lojinha da 1 da Sul, Ferréz era descolado, digamos assim, tinha ideias grandiosas e parecia certo que ia realizar. Tinha uma janela na lojinha, cheia de adesivos, lembro dele falando: - Essa janela não liga nada a lugar nenhum, só coloquei ela pra colar adesivo. A entrevista foi no quarto dele, cheio de bonecos de heróis, HQ e livros.... até hoje somos amigos, a 1 da Sul inspirou eu anos depois a montar a Livraria Suburbano Convicto.
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(5) Allan da Rosa - Um cara começou a lançar alguns livros pela Edições Toró, um selo literário da periferia, lançando autores periféricos como o Robson Canto que era da Favela do Heliópolis. Admiro o Allan porque ele é bom escritor, arte educador e interpreta um texto como ninguém, mesmo que ele tenha conhecido o texto naquele momento, acabado de comprar um livro, num lançamento. Uma vez em Campinas, tive um contra tempo com ele que quase virou uma briga, isso foi totalmente dissipado pelo tempo e também pela admiração pela obra, crescente sempre.
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(6) Binho - Conheci o Binho do Sarau do Binho na Cooperifa, ele ainda tinha o livro POSTESIA, que era um livro com frases e poesias, essas poesias eram pintadas em placas (recicladas dos políticos), e afixadas em postes da zona sul de SP, por isso o nome Postesia, admiro demais o Binho e sua esposa Suzy, gravei com eles pra TV, pro Manos e Minas e SPTV, nessas idas ao Campo Limpo, cresceu minha admiração.
(6) Poeta Fuzzil - Tem meu máximo respeito, é um cara humilde e talentoso, sua história, ter sido alfabetizado pela irmã com 16 anos e ter virado escritor é pra mim o máximo. Fuzzil era do grupo Os Guerreiros do Nego Chic, grande nome da nossa cultura.
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(7) Nego Chic - Conheci o Nego Chic nas Grandes Galerias da 24 de Maio, ele é um MC e militante do Hip Hop e foi um cara importante na minha legitimidade no movimento, lembro dele me falando na Loja Porte Ilegal do Dario: - Quando alguém falar que o Hip Hop está em baixa, concorda com ele e sai rapidamente de perto, porque pessimismo pega.
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(8) Dario - O Dario era dono da loja que mais me identifiquei na Galeria, onde eu ia, passava as horas ali, encontrava pessoas, conhecia pessoas e artistas. O problema é que o Dario era de poucas palavras e daqueles que não faz a mínima questão de ser simpático de agradar, de querer amizade. Dessa inusitada pessoa surgiu um amigo fiel, um cara que eu ficava meia hora conversando e aprendia cada vez mais sobre Rap. Foi um professor.
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(9) Rappin Hood - O Hood é bicho do mato, ele mesmo me disse isso numa van indo pra 105FM onde eu fui dar entrevista no programa dele, minha esposa Marilda (super fã do Hood), também é bicho do mato, logo... acho que tenho imã pra pessoas assim. Sou amigo do Hood e me orgulho disso, porque ele só é amigo se for de verdade, ele não faz cena. Também admiro porque com ele comecei na TV, meu quadro no Programa Manos e Minas da TV Cultura. Já estive com ele em vários lugares, ele foi na minha quebrada uma vez gravando pro meu quadro, especial de final de ano (2008). Colei com ele na Favela, na Imperador do Ipiranga onde ele foi por um tempo vice presidente. Sou fã e amigo.
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(10) Sandrão RZO - Quando publiquei meu primeiro livro, O TREM. Coloquei sem autorização a letra da música O TREM do RZO, depois procurei eles e fui presenteado com a ida do Sandrão no lançamento do livro, dia 24 de dezembro de 2000 no Jd das Oliveiras no Itaim Paulista. Viramos amigos ali e somos até hoje.
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(11) Helião - Da ida do Sandrão no lançamento do meu primeiro livro, surgiu o convite pra ir conhecer a famosa LAJE DO HELIÃO onde o RZO ensaiava. Lá foi a minha faculdade de Hip Hop, conheci lá Dina Di, Negra Li, Dj Cia, DBS, TOM RHK, Calado e tantos outros, NegroÚtil (im memorian). Fui, convidado pelo Helião nas fotos do encarte do CD "Evolução é uma coisa", inesquecível esse dia, eu totalmente duro, sem grana, mas envolvido com a nata. Nesse dia o Helião chegou em mim e disse: - Todos esses são daqui de perto, eles se viram, desce você pra almoçar comigo e minha família.
Ganhou meu máximo respeito eternamente.
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(12) - Leci Brandão - Conhecer a Leci Brandão.... foi tão importante pra mim, quanto ter entrevistado pelo telefone o mestre Bezerra da Silva.
A primeira vez que vimos (eu e minha esposa Marilda que é mega fã), foi quando a Leci Brandão foi no Teatro Franco Zampari gravar o Manos e Minas, ainda nos tempos do Hood. Mas foi só um encontro rápido, uma foto e dei um livro meu pra ela. Não imaginava que um dia, iria virar "amigo" dela, ter ela próxima de mim em bons momentos. ano passado (2014) ela foi a atração do meu evento FAVELA TOMA CONTA, no dia das crianças no Itaim Paulista, nem acredito nesse feito.
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(13) Tribunal Mc´s - Na época (2001, 2002), formado por Frann, Ronaldo Crânio, Du Loko, Da Antiga, Nego Mola e 16. Andei com eles em várias quebradas, vários shows... foram momentos importantes na minha formação hip hop. Hoje só mantenho uma proximidade com o Da Antiga, os demais vejo mais de vez em quando ainda, o grupo hoje não tem mais essa formação.
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(14) Enraizados - Minhas primeiras idas a outro estado foi no Rio de Janeiro com o pessoal do Enraizados que tinha 4 nomes na linha de frente, Dudu de Morro Agudo, Fiell, K2 e Neném. Vivemos bons momentos.... depois o Neném mudou de estado, os outros dois seguiram outros caminhos se desligando do Enraizados e minha amizade seguiu até os dias de hoje com o DMA, Dudu de Morro Agudo, aquela amizade de eu me hospedar na casa dele e ele na minha, até hoje. Um cara que admiro pelo talento, irreverência e os momentos que nós e nossas famílias passaram juntos.
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(15) Sacolinha - Conheci o Sacolinha antes dele ser escritor, ele era MC de um grupo de Rap e tinha um programa numa rádio comunitária em Suzano-SP, sua cidade. Foi nesse programa que fui dar entrevista em 2001, falar do meu primeiro livro. No caminho de pé, da casa do Sacolinha até a rádio, ele parou numa casa, retirou um livro e deixou outro.
Perguntei: - O que é essa troca de livro.
Ele respondeu sonhador e convicto: - É o projeto Literatura no Brasil.
Hoje Sacolinha tem vários livros publicados e o projeto segue disseminando a literatura em Suzano e região.
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(16) Tubarão Dulixo - Um cara como o Dário, Hood e Marilda, de pouca vontade de agradar, de convicções só dele e que não muda, um cara que ou gosta ou não gosta. Viramos amigos ao acaso de um encontro inusitado em Itapevi, eu gravando meu quadro do Manos e Minas e ele expondo sua arte (da Dulixo) no mesmo evento. Depois a vida fez ele vir trabalhar comigo e depois naturalmente passou a apresentar o Sarau Suburbano toda terça-feira comigo. Passamos muitos momentos juntos, de sarau na magazine luiza à ficar ilhado por água na véspera de natal. Um amigo que estimo demais.
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(17) GOG - O GOG é um dos maiores nomes do Rap Nacional, conheci ele nos rolês dos eventos, quando ele vem pra São Paulo. Viramos amigos...
Uma vez um vôo meu pro Acre, fazia escala em Brasília e ia passar 5 horas no Aeroporto, pensando o que fazer nesse tempo, comprar um livro pra ler, ver um filme (tinha um cinema no aeroporto), eis que surge a idéia, vou ligar pro GOG e ver se ele não faz um rolê comigo por Brasília. Liguei num numero que eu tinha, era um lugar que ele ia, um estúdio, falei que era amigo dele, estava na cidade. O cara me passou o celular dele. Liguei....
O GOG em meia hora me buscava com seu GOLF no Aeroporto e fiz um mega rolê com ele, conheci lugares e sua família, esposa e a mãe que ele tanto amava e que venho depois a falecer, foi um dia inesquecível e tenho uma gratidão eterna pela atenção que o mano me deu, depois disso estivemos juntos em várias situações, no interior de São Paulo, tinha acabado de fechar minha ida à Globo, pra trabalhar no SPTV e o GOG é um dos maiores críticos a mídia e a Globo. Foi minha base de como o movimento ia encarar minha ida a Plim Plim. GOG apoiou, disse que seguia pensando a mesma coisa da emissora, mas me apoiava. Ainda perguntou: - Você pelo menos vai ganhar "X" mil reais por mês ?
Respondi que: - Um pouco mais.
Ele apoiou mesmo não gostando da Globo, não deixamos de ser amigos por isso, mas quando tive oportunidades, ele não quis me dar entrevista. Respeito... claro. Ganhou meu máximo respeito quando foi de Metrô e Trem (Tubarão e Nelson Maca também estavam no bonde), do centro de São Paulo, pra uma atividade minha no Itaim Paulista e ainda, no horário de pico.
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(18) Renan Inquérito - Conheci ele por carta, eu fazia fanzine e ele um jornalzinho de Hip Hop. Tinha um grupo chamado Inquérito, mas ainda não era conhecido, não tinha nem lançado o primeiro CD, ele venho depois e principalmente a música "Dia dos Pais" projetou o grupo no cenário do Rap Nacional. Admiro o Renan, assim como o Dexter ele faz acontecer, não espera nada, nem ninguém, pensa e executa. Além de ser um dos maiores letristas do movimento. Amigo de vários momentos.
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(19) Toni C - Escritor e empreendedor, fez um ótimo trabalho na Biografia do Sabotage. Mas é com seu selo LiteraRua que ganhou mais ainda minha admiração, é um operário da literatura e um dos pilares também. Sonhador... quem não é.
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(20) Toni Nogueira - Meu guru, amigo... trabalhamos juntos na TV por anos, fizemos juntos o filme Profissão MC e muitas outras paradas....outras virão. Ainda por cima, somos vizinhos no litoral.
Um cara que me ajudou muito....
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(21) Guilherme Azevedo - No início de tudo, meu primeiro livro, ele fez uma matéria comigo pra Revista Caros Amigos, viramos amigos, numa fase muito complicada de dinheiro, me ajudou quando ninguém mais ajudou, salvador. Eternamente grato.
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(22) Marilda Borges - Minha esposa, fotografa e produtora. Mãe do meu filho e amor da minha vida.
Cada um dos momentos dos meus 15 anos de carreira, em pelo menos 95% dos momentos ela estava junto comigo, da pra se contar os rolês e momentos que ela não estava, porque ela sempre está. Trabalhamos juntos por um futuro melhor pra gente e pro nosso filho. Pior que o Dario, Tubarão e Hood juntos.... ela faz pouquíssima questão de agradar, de fazer média. Um bicho do mato, minha bicho do mato e não troca por outra jamais, espero viver junto sempre.
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Claro que essas 22 pessoas acima são um pilar de sustentação na minha trajetória, mas poderia escrever 100 nomes que foram importantes, talvez a lista seguiria com Nelson Maca, Walter Limonada, Dimenor do Bristol, Terno, Valentina da Edicon e por ai vai.....
Os 22 nomes acima, representam tantos outros importantes e que me orgulho de ser contemporâneo.
Alessandro Buzo
sábado, 4 de julho de 2015
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