quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

ENTREVISTA COLETIVA COM ALESSANDRO BUZO - PARTE 2


Buzo responde perguntas dos seus seguidores no Facebook
Nessa PARTE 2 são 13 PERGUNTAS & RESPOSTAS.


****
Valmir Jordão: Como analisa o cenário atual da cultura periférica no país, depois de tantos retrocessos político/administrativo e da omissão de muitos que criticam, mas esquivam-se, pulam fora na hora da ação ?
Alessandro Buzo: Salve Valmir Jordão, acho que "nóiz por nóiz" a cena está crescendo, está forte, mas vejo cada vez mais realizadores de eventos, em dificuldades financeiras porque fazemos mais do que somos remunerados, falo no geral. Com a política que deve ser aplicada pelo novo prefeito eleito em São Paulo, no primeiro turno diga-se de passagem, a tendência é piorar, porque ele não conhece a cidade que vai administrar, muito menos a cena cultural, é elitista. Mas, não quero ser pessimista e criticar "antes", ele nem assumiu, mas pelo anuncio das mudanças na Virada Cultural, dá pra ver que não vai ser fácil.
Quanto a parte final da sua pergunta "omissão de muitos que criticam, mas esquivam-se, pulam fora na hora da ação ", tenho a dizer que estamos cada um correndo pra um lado diferente, não temos união, tentei nas últimas eleições ser um candidato legítimo da cena cultural da periferia, do Hip Hop e tive pouquíssima adesão de apoiadores dos saraus, do Hip Hop, muito abaixo do que eu esperava, o resultado é que tive 1.023 votos dos 22 mil que precisava pra ser eleito pelo PCdoB, não entrei. Parece que eu estava querendo ser o representante de quem não quer ser representado. Mas valeu, confirmou o que eu pensava nos mais pessimista dos meus pensamentos, hoje é cada um cada um, cada um preocupado com o seu e não temos uma união de pensamento e ação, eu não entrei, mas o Holiday entrou e junto com o Dória, querem acabar com a Secretaria da Mulher, da Igualdade Racial. Dias difíceis virão.
***
Walter Limonada: Conte um pouco sobre sua experiência na Politica e se pretende manter-se candidato a Vereador em futuras eleições ?
Alessandro Buzo: Como disse acima, não tive o apoio que esperava e duvido que daqui 4 anos vou ter, então no momento não quero de novo não, ser candidato, não tô falando que não posso mudar de ideia, mas a princípio não. Também passei a morar em São Sebastião, no Litoral Norte, onde parte dos meus projetos no ano novo são lá, é lá que vou filmar meu segundo filme, com 100% de atores não profissionais locais, tenho a versão mensal do Sarau Suburbano lá, que fez 1 ano em Novembro agora... segue em 2017. Quem sabe em 2020 eu não saia a vereador pelo PCdoB lá, em São Sebastião.... rs. O futuro a Deus pertence. Valeu Limonada por participar.
***
Buddy X Paulo Simas Você não acha vivemos uma "desumanização" nas relações, no sentido mais capitalista na sociedade ?
Alessandro Buzo: Salve "Buddy X Paulo Simas" .... com certeza e parece que tente a piorar, estamos (a sociedade), cada vez mais pensando no individual e não no bem coletivo.
A crise, a corruoção gritante no nosso país, faz o povo estar cada vez mais no aperto, no vermelho, muitos desempregados, outros com medo de perder o emprego, cada um na sua luta particular. Na cultura acaba acontecendo a mesma coisa e a gente foca cada um nos seus interesses. Eu tento viver e agir fora desse circulo vicioso, como..... sendo um pai presente, um bom marido, um cara que tenta ajudar muita gente, mas uma coisa é certa, se não puder ajudar, atrapalhar jamais. Na mídia abri o espaço pra geral, mostrei a cena de verdade, não só os amigos, o que era cômodo e sim todos que vieram até eu propor pauta, sem panelinhas, nem picuinhas, acho que fiz um bom trabalho, no meu sarau, abro espaço pra geral, tento ajudar, vendo livros consignados e pago direito os autores, eu seja, ser um cara aberto no dia a dia.
***
Mannog Bica Gostaria de saber sua opinião sobre os espaços que tem no rap para novos grupos, recentemente lancei meu cd.e com muito custo cheguei tocar em alguns lugares. hoje tenho empresa aberta tenho todo meu material pronto pra enviar pra vários locais. ate já mandei pra alguns e nada. agora vai a pergunta.
Tem gente usando o nome do Rap só pra se promover ou eu estou só nesse pensamento.. ??
Alessandro Buzo: Sua pergunta é difícil de responder, mais vou tentar.
O contratante, geralmente que o lucro mais fácil e certo possível, então se ele puder vai levar o Racionais Mcs, Criolo, Emicida, entre outros, depois desses veim um segundo pelotão que ou são de mile anos na cena, ou tem uma boa visibilidade junto ao público e a mídia. Só que é muita gente, muito grupo, então depois vem um outro pelotão de cantores de Rap, cantoras e grupos, que lançam seu CD, EP, no maior corre, super independente e entram no jogo, cada semana alguém lança, não tem público pra tanta gente, pra comprar tanto CD e nem tanto evento rolando pra que todos sejam chamados, tem nesse pelotão os que são mais organizados, como você mesmo, que disse que tem material, tem camiseta, tem albúm na mão, tenta ser ativo nas redes sociais e tem aqueles que lançaram um trampo e tem menos que você, mas ele está ai também, nem email tem, nem release, nem uma foto em alta, nada. O Rap precisa cativar mais seu público, pra ampliar horizontes, fazer esse público crescer, senão eles vão pra outros segmentos, como o funk, samba, rock, reggae, sertanejo, sofrência, a FAVELA hoje não é só rap e cada vez menos é.... então tentando responder sua pergunta, o único jeito de vencer nesse cenário que falei antes, é ser forte, acreditar, fazer sempre o seu melhor, continuidade é importante, quando o Criolo Doido foi protagonista do meu filme Profissão MC em 2009, estava numa pior de dinheiro, mas seguiu fazendo o seu melhor e onde está hoje, venceu, Mas teve o estar no lugar certo, na hora certa, parcerias certas... nem todo mundo chega lá mesmo. Fora a perda de tempo que parte do movimento tem, até hoje chamam o Emicida de modinha, ele está ai na cena a mais de 10 anos, fazendo diferente, apostando no profissionalismo, trabalha pra porra, montou uma equipe de trabalho sólida e em vez de ser exemplo, recebe um monte de criticas, sabe-se lá porque. Está tudo errado e precisamos ser um só HIP HOP, porque o cenário político não parece que vai ser favorável nos próximos anos, ou focamos na missão, ou vamos ficar ainda chamando de vendido o rapper que vai na TV.
***
Jackson Jesus Costaj : Bom dia Buzo, tem algum projeto para um novo filme ? O Profissão Mc é show de bola parabéns ?
Alessandro Buzo: Em 2017 vou realizar um filme independente chamado "Fui !", que vai ser gravado no litoral norte, com atores não profissionais locais.
Aguarde, quem sabe em 2018 vem o aguardado Profissão MC 2, vamos torcer. Falta apoio, dinheiro, não falta vontade.
***
Terno Maciel: O que a globo não permitiu que você abordasse em seu quadro no SPTV, e que você gostaria de ter abordado?
Alessandro Buzo: Nos 3 anos que estive no SPTV, nos 147 quadros exibidos não deixei de mostrar nada, tinha uma baita liberdade de indicar as pautas, produzir os quadros, não tinha veto, as vezes pediam pra segurar um sarau que a gente tinha acabado de mostrar outro, o mesmo de um time de várzea, assim por diante, mas depois sugeria de novo e ia. Fomos bom enquanto durou, foi legítimo.
***
Terno Maciel: Porque você acha que o quadro não teve continuação?
Alessandro Buzo: Quando eu entrei em 2011, era um ano, renovável automaticamente por mais um e se fosse "muito sucesso" duraria 3 anos, que pra eles é o prazo máximo pra um quadro com um tema especial, no caso a cultura da periferia. Então fiquei o tempo máximo que me foi prometido, em 2014 quando parou, exatamente quando fez 3 anos, eles pararam, pensei que seguiria que o sucesso do quadro era enorme, mas eles alegaram que iam parar mesmo, porque deu 3 anos, quem sabe a gente voltaria em breve, o que acabou não acontecendo, na verdade quem lá dentro cuidava do quadro foi mudando com o passar do tempo e por último era cuidado pela Cris Ladeira que se acha expert em jornalismo, periferia e na verdade só criou caso com o quadro e ajudou na decisão de acabar com ele, ou pelo menos não ajudou em nada. A mídia no geral quer mostrar futilidade e tragédia, vende mais, conteúdo não é prioridade. Tanto que não voltei pro SPTV e mesmo o público me cumprimentando até hoje nas ruas, dois anos depois, não fui chamado por nenhuma outra emissora.
***
Terno Maciel: A livraria ambulante correspondeu a suas expectativas?
Alessandro Buzo: No início sim, porque pintou bastante saída e em algumas vendia bem, mas não temos saído tanto, por falta de convites, ajuda de custo quando é fora de São Paulo. Mas o Projeto Livraria Suburbano na Estrada continua, quem quiser ver cobertura das nossas saídas, tem no Blog: www.literaturaperiferica.blogspot.com
Só chamar que a gente vai pra qualquer lugar do país.
***
Didi Art 1 : Quais as perspectivas para a cultura hip hop diante desse cenário político ?
Alessandro Buzo: Não quero ser pessimista, mas não vejo com bons olhos o cenário atual, acho que vem muito retrocesso ai, espero estar enganado, o que precisa é seguirmos na adversidade, sermos militantes pra não deixar o Hip Hop cair, precisamos urgente focar em mais união e menos treta. Profissionalismo pra suportar o que vem por ai.
***
Didi Art 1: Como fortalecer a cultura nas periferias uma vez que o Funk tem ganhado tanta notoriedade com suas letras sobre sexo e ostentação.
Alessandro Buzo: É não fazer eventos e show só fora da quebrada, precisamos manter a militância nessa questão, se estivermos omissos ou sem foco, o funk está ai de opção pro jovem, precisamos ter um olhar mais acolhedor pra esse jovem, parar de ficar no blá blá blá de nova e velha escola, quem é modinha, quem é ganster, quem é ícone, quem isso, quem aquilo, precisamos ser um só Hip Hop, será que estamos preparados ?
***
Alba Atróz Como foi seu tempo de escola, guerreiro? Professores, amigos? Do que lembra desse período, caro amigo?
Alessandro Buzo: Não sou um exemplo de bom aluno, não conclui nem o primeiro grau, comecei a trabalhar no centro, morava no Itaim Paulista, desde os 13 anos em 1985, parei de estudar cedo.
Tenho boas lembranças do meus primeiros anos de aluno, na escola municipal Antonio e Arthur Begbie no Jardim Campos no Itaim, mas não tenho contato com professores e alunos daquele tempo, só uns amigos de infância que estudaram comigo, mas vejo pouco eles, infelizmente, eles são a maioria do Jd Olga, mas quando estou no Itaim, fico mais no Jd Camargo Velho, onde morei uns 20 anos.
***
Ecio Salles Qual(is) o(s) livro(s) de cabeceira do Buzo?
Alessandro Buzo: Quarto de Despejo da Carolina Maria de Jesus, Rota 66 e Abusado do Caco Barcellos, Capitães de Areia do Jorge Amana, Manual Pratico do Ódio do Ferrez, Malagueta, Perus e Bacanaço do João Antonio, Eu Christiane F, entre outros.
***
Lunna Rabetti Quais seus planos pra 2017?
Alessandro Buzo: Seguir morando no litoral norte e só vir a São Paulo nos dias que tiver trabalho, agenda. Fazer o filme "Fui !" lá no litoral, seguir com a Livraria Suburbano que vai completar 10 anos, com o Sarau Suburbano semanal em São Paulo e mensal em São Sebastião, lançar dois livros meu, um de conto e outro de poesia, organizar 2 coletâneas literárias. Quem sabe voltar pra TV, tô aberto a essa possibilidade apesar de não ter nada em andamento sendo conversado, seguir sendo um pai presente e um bom marido, tentar pagar minhas contas em dia que a crise tá foda, apesar de eu não me apegar a ela na hora de produzir e projetar meus planos. Só "tudo" isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário