quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um detalhe que passou despercebido de "quase" todos....

Sobre a "1a CARAVANA DA POESIA"
Por Alessandro Buzo

A maioria dos 40 poetas que bravamente partiram de SP pro RJ na 1a CARAVANA DA POESIA, pra fazer 4 saraus em 2 dias, nunca tinham ido a cidade maravilhosa.
Nossa ultima parada foi na Chacará do Céu no BOREL, Tijuca.
Lugar fantástico, como o nome diz, muito perto do céu.
A vista é maravilhosa lá em cima, lugar antes dominado pelo trafico, hoje tem a UPP BOREL.
Pra mim não pode ter nada pior do que o domínio do trafico e das milícias. Já a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) é uma tentativa de retomada de território, se é bom ou não, só o tempo vai dizer.
Vi algumas pessoas do RIO falando mal e muitos falando bem.
O senhor que nos recebeu tão bem na sua casa, o senhor Gabeira, fez um discurso inflamado contra, na volta (descendo do céu de Kombi) um poeta perguntou pro motorista: - A UPP foi bom pra vcs.
- Ótimo, nem se compara.
A imprensa e a sociedade deve policiar a polícia, que tem tendência a "abuso de autoridade", mas nada deve ser pior que um monte de bandidos armados.
Mas na nossa chegada ao BOREL, uma cena me chamou a atenção e passou despercebido pela maioria, quando chegamos no local do SARAU, alguns de nós diziam: - É nóis !!!!
Uma mocinha, jovem. INDIGNADA dizia: - É a gente !!!! É a gente !!!!
Uma senhora de lá reprimiu ela: - É "Nóis", é a gente.......tanto faz.
Mas se fosse na época do trafico, não seria bem assim....e esse diálogo passou despercedido porque a maioria do nosso bonde não sabe nada de trafico carioca.
Pequenos detalhes poderiam antes, levar até a morte. Ou humilhações.....
Uma determinada facção criminosa diz: - É Nóis.
E a rival diz: - É a gente.
Parece um detalhe bobo, mas dizer é nóis ali no BOREL, que por anos foi dominado pela facção que diz: - É a gente.
Seria um sério problema, tanto que a moça, ainda com reflexo dos anos de domínio, retrucou.
Outros pequenos detalhes como esses podem fazer toda diferença nas areas dominadas pelo crime organizado.
Por exemplo....
Roupas da marca "CICLONE", uma marca comum que vende nos shoppings cariocas. Integrantes de uma determinada facção usam essa marca, se vc chegar numa comunidade dominada pelos rivais, vestido de CICLONE, pode voltar sem roupa ou pior, pode nem voltar.
Outra coisa, vá de roupa vermelha numa comunidade dominada pelo Terceiro Comando, ta ferrado, vermelho é proibido.
Vi alguns poetas embalando discurso ante UPP na caravana (em público), eu não sei se é bom ou ruim (a tal UPP), mas quando não tenho certeza, prefiro olhar em vez de falar.
Uma coisa eu vi nessa viagem.......hoje qualquer um vai pro Rio e encara uma comunidade, antes não era bem assim.
Não tô defendendo UPP, só que os poetas viram no FALLET (eu não fui), o que eu já vi outras vezes em Vigário Geral, Cidade de Deus e outras comunidades. Bandidos fortemente armados, que são juiz e podem determinar se você vive ou não, isso não consigo achar normal e muito menos apoiar.
Os cara mataram o Tim Lopes, que tinha a costa quente da GLOBO, imagina um de nós, ou da gente, sei lá.....
Só pra reflexão.....Deus me deu 2 olhos, 2 ouvidos e uma só boca. Imagino que ele quis me dizer que tem horas que é melhor ver mais, ouvir mais e falar menos.

Alessandro Buzo é escritor
www.buzo.com.br

2 comentários:

  1. É irmão.A vida no Rio não é facil.Mas eu não imaginava que a situação com os traficantes fosse tão grave assim.E concordo.Melhor observar primeiro e tirar conclusões depois!

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  2. Nunca fui ao Rio de Janeiro, mas é um local que tenho vontade de conhecer até pela diferença geográfica das realidades sociais de São Paulo e do Rio de Janeiro.
    Tenho pouca informação para dizer qualquer coisa sobre as UPPs, entretanto, acredito que são melhores do que um "Tribunal de Rua". A influência, até cultural, do crime organizado ficou entravada na memória dos moradores e isso é algo que precisa ser mudado para que não haja, na pior das hipóteses, uma retomada do crime.
    Ai eu enxergo a importância dessa Caravana de Poetas, mostrando exemplos de outras periferias que sofrem com a influência do tráfico, em menor escala, para a população destes locais e tenho certeza de que foi um sucesso essa viajem e já semeou mudança pelos lugares que passou.

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