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MATÉRIA de Jéssica Balbino no Site CENTRAL HIP HOP....
Bocada Forte ::: Reportagens
"Je suis favela": literatura marginal brasileira chega à França
Data: 11/03/2011
Sacolinha, Alessandro Buzo e Rodrigo Ciríaco têm textos traduzidos na coletânea de contos Je Suis Favela, lançada em Paris
“Je suis favela”. Eu sou favela. A expressão comum nas periferias de todo o Brasil está traduzida para o francês, mas não, ela não perdeu sua singularidade. Continua sendo dita por quem realmente representa a favela. E representa tão bem que ganha espaço para fazer isso lá fora. Representantes da literatura marginal tupiniquim, Alessandro Buzo, Sacolinha, Rodrigo Ciríaco e Ferréz furam o gueto da exclusão em que foram colocados e têm seus textos publicados na França. Por meio da editora Paula Anacaona, terão contos publicados na antologia Je Suis Favela, da Anacaona Editions.
O lançamento da obra será feito nesta segunda-feira (14/3), na Librairie OFR, em Paris - capital do país em que a leitura atinge média anual de sete livros por habitante, contra a média brasileira inferior a um livro. A repercussão de seu trabalho suscita sentimentos variados nos autores, selecionados através de blogs e publicações brasileiras.
Para Rodrigo Ciríaco, professor, arte-educador e autor do livro Te Pego Lá Fora, a perspectiva é a melhor possível. “Só de ter chegado à França, já é uma maravilha. Eu queria estar lá, mas aí já seria demais. Ou não”, brinca, lembrando que, recentemente, esteve fora em países como Alemanha e França, e ainda está pagando as despesas. “Faria tudo de novo”, orgulha-se, ao lembrar que teve a oportunidade de levar a literatura nacional a uma escola francesa que ensina português e de lançar sua obra em uma livraria especializada em literatura afro-luso-brasileira. “Isso aconteceu com pessoas que nunca me viram, mas foram lá por conta do meu trabalho. Literariamente falando, o ano começou bem.”
O escritor Sacolinha, que adotou definitivamente o apelido como nome de escritor no lançamento dos títulos Graduado em Marginalidade, 85 Letras e Um Disparo, Peripécias da Minha Infância e Estação Terminal, encara o lançamento e a participação na coletânea francesa como uma oportunidade para mais contatos, referência e respeito. “Com isso, a gente consegue chamar mais a atenção e conquistar a molecada, já que ainda são poucas as referências que eles têm na periferia”, pontua.
Já Alessandro Buzo – que acumula sete títulos lançados no Brasil -, quando questionado sobre o que espera da publicação, revela que não cria expectativas e, por isso, tudo o que conquistar com essa incursão internacional será bem-vindo. Porém, ele faz considerações sobre o tema. “Falamos de periferia e hoje está ´na moda`. Não digo moda cultural, e sim de grandes empresas de olho em como dialogar com a nova classe média brasileira, gente que tem viajado de avião, comprado carro, telefone celular, televisão, computador, etc”, opina. “Só nós que pisamos no barro podemos saber qual é a real de uma quebrada. Não adianta pesquisar, tem que ter um conhecimento e viver isso no seu dia a dia. É um gingado e malandragem de um povo honesto e trabalhador. Agora não precisamos mais que venham fazer teses sobre a gente. Queremos, sim, escrever nossa própria história.”
Por outro lado, Ciríaco não acredita que a publicação mude muita coisa, mas espera que a produção literária da quebrada se engaje ainda mais. “Pode confirmar aquilo que já sabíamos: que ´nóis é possível`. É possível continuar escrevendo e melhorar, fazer ainda mais. Literatura, letramento da quebrada, é um avanço. Temos que deixar de conhecer apenas os artigos 121 e 157, e conhecer a Constituição inteira”, frisa.
A editora Paula Anacaona destaca que resolveu incluir os autores na coletânea porque eles representam a ´jovem guarda`, e fez questão de misturar a literatura periférica com a convencional. Com uma editora recém-criada, ela já lançou na França o livro Manual Prático do Ódio, de Ferréz. “Eu pensei: é essa literatura marginal que quero divulgar na França. E surgiu essa ideia da coletânea, porque tinha tantos autores que eu queria publicar e não sabia com qual começar”, explica.
Feliz com o resultado da obra Je Suis Favela, ela conta que muitas fotografias ilustram a ficção. Além do óbvio “muito sucesso” esperado, ela conta que aguarda uma divulgação desse tipo de literatura na França, uma vez que o livro conta também com o escritor Marcelino Freire, entre outros. “Tem pouco da literatura periférica aqui na França, além de muitos problemas também nas periferias – que são diferentes das do Brasil, pois têm mais a ver com a imigração ou a identidade. Mas acho que eles também teriam muito a escrever. Será que esse livro vai incentivar os franceses periféricos a escrever? Que legal – eu ficaria muito feliz”, almeja. Os planos da editora não param por aí. Paula planeja lançar obras individuais de todos estes autores na França. Por enquanto, Je Suis Favela só estará disponível em francês, sem previsão de lançamento em português.
Para finalizar, Ciríaco deixa uma mensagem que resume a voz da literatura marginal no Brasil: “Muito trampo, raça e coragem, porque a literatura não pode parar”.
O livro
Je Suis Favela é uma coletânea composta por 22 contos e 60 páginas de artigos de imprensa, que faz uma análise profunda da realidade da favela. Além de Sacolinha, Buzo e Ciríaco, a obra reúne os escritores Marçal Aquino, Ronaldo Bressane, João Anzanello Carrascoza, Ferréz, Marcelino Freire e Victoria Saramago.
O lançamento será realizado na segunda-feira (14/3), na Librairie OFR (20 rue Dupetit Touars, 75003, Paris). A festa de lançamento terá a presença do cantor Solo, do antigo grupo de rap Assassin, que deverá ler alguns contos durante o evento.
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da hora. só avanço. pra nóis e pra quebrada. salve
ResponderExcluirLegal vc ter inserido a matéria aqui, Buzo !
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