terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Entrevista exclusiva com CELSO ATHAYDE.

Por: Alessandro Buzo
Entrevistamos o multi mídia e empresário Celso Athayde, nome forte da CUFA.
Ele realiza projetos grandiosos, mas nem sempre foi assim, passado difícil vividos em Madureira, no Rio de Janeiro.
Mas o que quero destacar aqui é o empreendedor Celso Athayde, ele não vê limites pra sonhar.
Polêmico sempre foi, tem opiniões bem formadas e briga por elas.
Nessa entrevista, 9 perguntas pro CHEFÃO da CUFA.



Alessandro Buzo: Quem é Celso Athayde ? Por ele mesmo ?
Celso Athayde:
Celso é um cara de hábitos simples, que tem todos os motivos para ser feliz, que nunca se pautou em reclamar e que tenta fazer a maior quantidade de ações profissionais e pessoais. Um cara que perde e ganha com a mesma dignidade.


Buzo: O que Madureira representa pra VC, nos fale algumas coisas que te faz amar esse lugar ? Amar é a palavra ?
Celso Athayde:
Nasci na Baixada Fluminense, cidade de Nilópolis, bairro do Cabral. Meus pais se separaram e minha mãe resolveu perambular por casa de amigos, parentes e acabou indo parar no viaduto Negrão de Lima, em Madureira. Eu e meu irmão sempre com ela. Na época, eu tinha 6 anos. Crescemos ali até ser levado para um abrigo, o pavilhão de São Cristóvão. De lá fui para a favela do Cavalo de Aço e depois para a favela do Sapo. Já adulto me reencontrei com Madureira, onde passei a trabalhar como camelô pirateio. Em Madureira passei os piores momentos da minha vida, a fase mais trágica, pois a rua é o limite e um viaduto é a tensão desse limite. Foi em Madureira que meu irmão foi assassinado. Mas, por outro lado, a Cufa surgiu em Madureira, meus filhos nasceram em Madureira, e acabou sendo o lugar de onde tirei a vida inteira o pão de todo dia.


Buzo: Você realiza eventos e ações grandiosas, sempre acreditou que seria possível ?
Celso Athayde:
Não, nunca acreditei que eu conseguiria fazer coisas nobres. Nunca pensei que a sorte pudesse olhar pra mim. Mas minha mãe sempre lutou muito para sobreviver, e esse foi o maior legado que ela me deixou: o amor pelo trabalho. Aos poucos, fui percebendo que eu não tinha talento para nada e então passei a tentar compensar com uma carga horária maior. E é o que faço até hoje. Trabalho muito por paixão, porque acredito que as realizações refrescam a alma. O tempo me mostrou que temos que fazer como as ondas do mar, fazer de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço. Então passei a encarar a vida assim, aproveitando todas as oportunidades, encarando todas as coisas como uma chance, tendo um olhar para o mundo de empreendedor. Está sendo possível porque não foco nas dificuldades, foco nas soluções. Isso tem feito toda a diferença.


Buzo: Como é a sua parceria com a grande mídia, em especial com a Rede Globo que apóia várias das suas ações ?
Celso Athayde:
Eu sempre vivi da mídia. Quando eu era camelô, em Madureira, e vendia cd pirata, quem definia o que seria produzido por nós era a mídia. Se o artista não estava na mídia, ele não tinha espaço na nossa banca. A mídia é igual em todos os lugares, seja na radio comunitária ou na Rede Globo. Todos eles têm seus interesses, ai é que está a questão. Temos que pautar nossas vidas no que nos interessa. Essa é a minha relação com a mídia, tenho meus interesses e ela o dela. Se esses interesses são convergentes, nós seguimos. Se não são, nós paramos. O problema é que uma parte da população não consegue ter essa leitura e acha que um grupo é pior do que o outro. Na verdade, não é. O que os difere são os números, é o IBOPE que eles estão alcançando. Ou aprendemos a jogar ou ficamos na arquibancada xingando os jogadores, só que no término do jogo, eles vão entrar numa Ferrari e vão jantar num restaurante 5 estrelas. Já quem está xingando vai pegar um trem para ir para casa e trabalhar no dia seguinte. Preferi ser jogador, estou em campo, perdendo e ganhando, mas jogando. Só que respeito a torcida, inclusive a que torce contra. Faz parte do jogo.


Buzo: No aniversário do MV Bill você publicou no FACEBOOK um texto que narra como conheceu ele, como resolver ajudar (sendo que vc estava precisando de ajuda, quebrado, como vc mesmo diz no texto), como o Bill foi buscar seu primeiro CD em São Paulo, sem saber que era o disco dele. Nos fale do MV Bill e desse início ?
Celso Athayde:
O Bill é um cara puro, obstinado, com inteligência rara. Um cara que prega e se comporta de maneira compatível ao discurso dele. Isso é um diferencial. Ele trabalhava numa lojinha de cd de rap que eu tinha, e resolvi fazer seu cd muito mais por retribuição à sua dedicação do que pelo talento dele. O talento eu descobri depois. Penso que nesse corredor, 99% vão ficar espremido no caminho independentemente do talento. O que vai valer no final são as histórias pessoais, o olhar de cada um. Não adianta ser afinado, fazer curso de musica clássica, tem que ter história também. Mas a forma mais bacana de falar sobre esse passado é você colocar o link dessa história aqui (https://www.facebook.com/celsoathaydepro/posts/686936331423622)



Buzo: Como surgiu a ideia de fundar a CUFA ? Quem estava no primeiro momento ?
Celso Athayde:
Eu tinha uma loja de cd de rap e essa loja estava falindo, aliás, faliu. Eu precisava reagir, lutar para isso não acontecer. Resolvi então criar um movimento de hip hop no Rio de Janeiro com o intuito exclusivo de fazer girar o mercado e salvar minha loja. Ou seja, a Cufa já começou com objetivo comercial. Na loja trabalhavam Nega Gizza e meu sobrinho. Então começamos a fazer as reuniões nós três. Eles não queriam, mas eu os ameaça de demissão se eles não ficassem para me ouvir. O Bill estava de saco cheio de tantas outras organizações de hip hop que não davam resultados, ou não o resultado que ele queria. Mesmo assim, ele veio em seguida. Daí para frente eram reuniões semanais e marcar a próxima reunião era um grande acontecimento, pois ninguém tinha nada a dizer. O tempo foi passando e entendemos que o Hip Hop era bacana, mas ficar nos 4 elementos era como reproduzir um câncer para a juventude. Tínhamos que apresentar outras alternativas e hoje o hip hop é um sentimento na Cufa, mas o carro-chefe é o diálogo entre todas as pessoas, é a nossa radicalização, é transitar e abrir as portas para os jovens. Não queremos xingar a Globo e nem a polícia. Não desejamos xingar os políticos nem as empresas como se somente eles fossem o sistema. Todos nós fazemos parte do mesmo sistema. Queremos dialogar com eles, até brigar se for preciso, mas a partir do que elaboramos. Se conseguirmos isso em grande escala, esse será o maior legado que podemos deixar. A capacidade de um povo elaborar é a forma mais sólida para o exercício da liberdade de fato.


Buzo: No meu livro HIP HOP - Dentro do Movimento, você disse que venho ao Rap e o Hip Hop por dinheiro ? Ser contraditório da Ibope ?
Celso Athayde:
O problema é que fazemos parte de um segmento que prega a cultura, mas ela nos falta. Prega a revolução, mas não lê. Então o contraditório estará no nosso comportamento, nas nossas interpretações e não nas falas dos outros.
Eu não vejo contradição em ter vindo para o rap pela possibilidade de ganhar dinheiro. Assim como estou voltando com o Hútuz pela possibilidade de ganhar dinheiro. Qual o problema? Veja, o Brown, o Bill e o Edi Rock estão me cobrando cachê para tocar. Todos trabalham e recebem. Então alguém aqui acha mesmo que um empresário, seja ele pequeno ou grande, vai vir fazer hip hop pelo amor? Eu não acredito.
Os sites e revistas de hip hop fazem pelo amor ou querem ganhar dinheiro? Se você luta para abrir um mercado, seja ele de samba, rap ou funk, não tem jeito. Quem regula o mercado é ele mesmo. Ter vindo pelo dinheiro não significa que voce não goste do que você faz. Eu vivo no mundo real, se eu não ganhar dinheiro com o Hútuz, eu não faço. Se eu não pagar os profissionais, eles não vem. Se o Hip Hop não mudar essa mentalidade, vai continuar vivendo de 4 grupos de sucesso e os outros agonizando. Quando eu resolvi me afastar do rap eu disse isso. Disse, inclusive, que era impossível alguém fazer algo como o Hútuz, que não iriam trazer as grandes empresas para o mercado porque os grupos só falavam merda. Isso causa impacto na vida de todo mundo. Se eu estava errado, então o Hip Hop deveria rir de mim, deveria me repudiar. Quem fala a verdade não merece castigo.



Buzo: Você anunciou a volta do HUTÚZ, inclui o PRÊMIO ? Pra quando seria ? Sem o Canecão, já teria uma nova casa ?
Celso Athayde:
Anunciei a volta do Hútuz Rap Festival, que é uma evento divisionário do Hutúz. Não vou fazer o prêmio agora por algumas razões. Preciso de respostas como: temos grupos femininos, gospel? É preciso sacudir o mercado, trazer a grande mídia para ele, abrir as emissoras de TV, as rádios, os jornais para oxigenar o mercado e depois lançar o prêmio e todas as outras vertentes do Hútuz. Quem entender a importância estratégica disso vai entender que estamos falando de tirar uma cortina de frente do hip hop e poder ver o que tem por trás. Mas acho normal que exista alguém que acredite que isso está errado. Porém, existe uma diferença entre quem faz algo errado e quem não faz nada.



Buzo: Além do Hutúz e Viaduto Madureira, quais os próximos passos e projetos ?
Celso Athayde:
Essa semana estamos fechando a programação da Cufa dos próximos 10 anos. Eu não consigo dizer tudo que vamos fazer porque é muita coisa, mas posso destacar aqui três coisas: uma da Cufa, uma minha e outra do Hip Hop.
A da Cufa é que será lançando ainda neste ano a Cufa Global, financiada pela Vai Voando, P&G, Globo Internacional e Brazil Foundation. Vamos lançar dois braços globais, um em New York e outro em Londres. Isso mostra que a capacidade de dialogar e construir deve ser maior do que a de reclamar .
Eu quero entregar a sede da Cufa no dia 29 de janeiro e definitivamente entregar tudo ao Preto Zezé, o presidente da Cufa.
Por fim, quero me aposentar em 2017 e entregar as empresas do grupo Favela Holding para um jovem talento chamado Thales Athayde.

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