Sobre o torcedor gay do Palmeiras.
Por: Alessandro Buzo
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Olá meu povo, principalmente quem curte futebol.
Entendam uma coisa antes de começarmos: - A sociedade é machista, mas o futebol é o dobro no mínimo, machismo ao extremo.
Frequento estádio desde muito tempo atrás, a primeira vez que vi o Palmeiras "ao vivo" foi ainda criança nos anos 80, com um amigo e o pai dele, em Taubaté-SP no interior (morei 2 anos em Caçapava-SP), Foi Taubaté 0 x 1 Palmeiras.
Anos depois, já morando em São Paulo, meu tio Lagartixa (in memorian), passou a me levar, no tempo que clássico era "MEIO a MEIO" e não essa patifaria de torcida única. Final dos anos 90, a torcida fazia a festa com bandeirão, várias bandeiras.
Desde que me conheço por gente, os corinthianos chamavam a gente de Porco (nosso mascote era o periquito), depois por volta de 1986, a torcida deu o troco e assumiu o porco como mascote,
Não existia redes sociais e não tínhamos o Allianz Parque, era o Estádio Palestra Itália, chamado de Parque Antartica e "jardim suspenso" pros íntimos.
Quando tinha treta era na porrada, nada de mortes, tiro, essa palhaçada começou depois, com bombas caseiras.
Assim como nós éramos os PORCO, os corinthianos eram GAMBÁ e os são paulinos, os BAMBI.
Talvez eu já tenha usado essas palavras, hoje não mais, depois de mais de uma década longe das arquibancadas, parei por questões financeiras e pela violência, que num momento dos anos 90 estava insustentável.
Antes disso, sou do tempo que um clássico no Pacaembu, saía as duas torcidas do Anhangabau (antes do VALE que é hoje), rolava xingamentos e poucas tretas, acreditem, já fui num Palmeiras x São Paulo num desses ônibus especiais pra torcida da CMTC, que da catraca pra frente ia os São Paulinos e do outro lado (no mesmo busão), nós palmeirenses. Impossível acontecer hoje. O mais legal era quando o busão de uma torcida ficava lado a lado com outro do adversário e tentávamos cuspir nos cara, no tempo que se abria o vidro pra cuspir, o outro ia mais rápido e cuspia nele, era festa quando acertava.
Quem viveu isso, sabe. Maioria dos torcedor gormeut de hoje, nem sonham, nasceram em outro contexto.
Enfim... voltei a ir no estádio por causa do meu filho, primeira vez foi em 2009, num Palmeiras 2x1 Coritiba.
Passei a ser um cara público desde 2008 quando passei a trabalhar na TV, com a vivência no Hip Hop e na cultura, nessa volta não usei mais esses termos, GAMBÁ, BAMBI. Ninguém tem twitt meu falando isso, porque se um dia usei, não tinha rede social.
Mas as torcidas usam, esses e outros.
É um ambiente machista, o torcedor xinga, manda tomar no cú, filha da puta e por ai vai, ao lado, mulheres e crianças.
Não sei se isso acaba um dia, porque xingar no estádio sempre foi jogar pra fora a dureza do dia a dia.
A polêmica do momento é um palmeirense gay que postou na rede social no jogo Palmeiras 2 x 0 São Paulo, que se sentia mal de ver os palmeirenses chamando: - Todo viado que eu conheço é tricolor.
Assumiu ser gay e palmeirense.
Claro que existe gay não só são paulinho, mas palmeirense, corinthiano, santista e toda torcida do país.
Isso é fato, mas porque tanta gente xingou o William De Lucca, principalmente palmeirenses.
Porque ele expos a torcida, na visão machista de uma torcida. Deu motivo pra xacotas e zoeiras. Mas ninguém é inocente de achar que ele é o "único" palmeirense gay, nem que não tenha vários corinthianos.
Mas você (o torcedor) xinga de BAMBI, até um são paulino hétero, não é questão de sexualidade. É cultural, do mundo machista que é o futebol. Como diz a musiquinha: - Todo viado que eu conheço é tricolor.
Eu assistiria um jogo ao lado do William numa boa, no meu evento semanal, o Sarau Suburbano no Bixiga, aparece pessoas queridas de todas as sexualidades.
Talvez a postagem do William tenha sido desnecessário nesse contexto.
Talvez ver um jogo no Gol Norte (povão), seja perigoso pra ele, no meio da MANCHA talvez impossível, mas em outros setores, talvez não.
Hoje tudo mudou, a internet deu voz as pessoas e muito se luta pelo fim do machismo, racismo, pedofilia, gordofobia, bulling e outros males da sociedade, mas nos estádios essa consciência talvez demore uma pouco mais.
Não acho que o cara fez nada demais, mas quebrou uma regra.
Que assuma e sustente o que falou, mas o respeito precisa ser no dia a dia, pra um dia, chegar nas torcidas.
Nas organizadas então, demora um pouco mais ainda.
Alguém acha que no desfile no carnaval, na Mancha, Gaviões e Independente, não tenha vários gay. Existe.
Mas tornar público é quebrar uma regra, e esse talvez seja o "erro" do William, que são os são paulinos que são gay.
Quem sabe um dia isso mude.
Alessandro Buzo
escritor, cineasta e palmeirense
segunda-feira, 12 de março de 2018
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