terça-feira, 15 de maio de 2012

Oportunidades

Por: Alessandro Buzo
* Inspirado num som do Rashid

Buzo e RASHID

Ouvindo um som no carro, do Rashid, EP "Hora de Acordar" o primeiro do MC que já lançou outro trampo.
Uma frase me chamou a atenção: - Não perdi uma só oportunidade, algumas é que me perderam.
Na hora passou um filme na minha cabeça. O primeiro foi estar ouvindo no meu "primeiro" carro, aos 39 anos, só ano passado tirei habilitação e comprei um UNO WAY.
Tem mais, lembrei de duas passagens.... a primeira foi uma vez que duro e fodido eu passava pelo Viaduto do Chá no centro de São Paulo, olhei pra um lado a Bandeira do Brasil tremulava na Pça da Bandeira, olhei pro outro e vi o imponente Viaduto Santa Efigênia, na minha frente o Teatro Municipal. Pensei: - Se eu não vencer nessa cidade de tantas oportunidades, vou pra onde, onde pode ser melhor. Não existe, vc reclama de São Paulo, mas ama e vive São Paulo.
Ta certo que existe duas São Paulo em uma só, uma da gastronomia, Formula 1, Indy, Show's em grandes casas, hoteis, flash's e alto custo. A outra São Paulo pega Buzão, trem, metrô, trabalha nas empresas e comércio daqueles que comem bem, restaurante fino, jantar ao preço do salario mensal da babá que cuida do filho dele.
São Paulo, a frase do Rashid na mente...... algumas oportunidades é que me perderam.
Comecei a me tornar LIVRE quando perdi o medo de perder o emprego, cresci numa sociedade e criação onde o TOP era ter emprego de carteira assinada, nos anos 70, começo dos 80 no Jardim Olga / Itaim Paulista, a ROTA pedia carteira profissional no enquadro, 2 ano de firma, dispensado. Sem carteira ou desempregado, no mínimo vagabundo, na madrugada fazia toda diferença.
Descobri sozinho, já noivo da minha esposa (13 anos de casamento), que minha mão de obra era qualificada, eu vendia alimento e era bom nisso, tinha uma carteira de clientes forte. Até ai, 27 anos da minha vida o que importava era estar empregado, mesmo que fosse trabalhando muito e ganhando pouco.
Com meus clientes conquistados no Atacadista São Paulo que até hoje está lá na zona cerealista, fui lutando e quando perdia um emprego, não esperava anuncio em jornal, placa. Eu ligava, pedia pra falar com o gerente de vendas e vendia meu passe: - Tenho clientela fiel e boa, grandes restaurantes da cidade, FASANO, PAULISTA GRILL, Restaurante Arabia, Clube Pinheiros etc....
Não dava outra, dia seguinte era recebido por ele e já começava a trabalhar.
Quebrei a cara de não ter medo, várias vezes. Depois que sai do Atacadista São Paulo, que era (e é) TOP de linha em produtos pra restaurantes, passei por muitos piores, mas teve bons momentos em Super do Brás (apoiou meu primeiro livro), TABOR, Logiodice.
Tem amigos que trabalhavam comigo naquele tempo (1998, 1999) e ainda está lá no mesmo emprego, lutando dia a dia, mas na mesma rotina a anos a fio.
Eu optei por andar, tentar coisas novas, como disse, quebrei a cara algumas vezes, mas vivi coisas boas também.
Até que nada mais importava, nem meu emprego, nem meus clientes.
Depois de 2000 quando lancei meu primeiro livro, o cultural começou a fazer parte do dia a dia e cresceu, teve vida fácil não, 2001, 2002, 2003 foram anos pra se esquecer, muitas dificuldades financeiras, só o que sobreviveu ao terremoto foi minha família, segui lado a lado da nega Marilda Borges e ela de mim, nosso filho (Evandro) que era pequeno nem sentia tanto a dureza, porque o que tinha era pra ele.
O Cultural cresceu e em 2006 eu fui deixando o trabalho (vender alimento), primeiro passei a vender (em casa), afinal trabalhava no telefone, um ano depois nem isso, larguei de vez.
Decidimos (eu e a Nega) que só iria trabalhar quando o trabalho tivesse alguma ligação cultural, nunca mais trabalhar só pelo salário, tinha que ser por prazer.
Hoje, minha Livraria no Bixiga com 5 anos, trabalhando no SPTV da Globo, fazendo palestras e eventos, ouvir a frase na música do RASHID me trouxe tudo isso na mente.
- Não perdi uma só oportunidade, algumas é que me perderam.
NÃO PERDI MESMO !!! NENHUMA. Nada passava batido, entrevista em rádio comunitária, palestra sem cachê em cadeia, escola pública, tudo era lugar pra falar do que acreditava, que a gente precisa sonhar.
Na hora passou esse filme na minha mente e venho uma excelente sensação por dentro.
EU TAMBÉM, assim como o RASHID, posso afirmar.
- algumas é que me perderam.



Alessandro Buzo é escritor
www.buzo.com.br



3 comentários:

  1. Salve Buzo compartilho sempre desse sentimento puro que nos invade irmão...
    Sua trajetoria dão varios livros e livros bons...
    to contigo minha familia ta contigo e isso é fruto de mais uma conquista sua...
    orgulho sempre irmão

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  2. E aê buzo, ao ler este post, confesso que fiquei emocinado mano, foi isso mesmo o que fiz também, larguei empregos para viver da cultura, e estou indo até aqui, a vida é essa, fazer o que gostamos e o que desejamos... Sorte pra nóis!!!

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  3. Parabéns Buzo pela coragem! Parabéns Marilda também pela coragem, dedicação e companheirismo! Sucesso sempre... vocês merecem!

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