sexta-feira, 8 de maio de 2015

A LUTA CONTINUA COMPANHEIROS (AS).


Por: Alessandro Buzo

Me orgulho da minha trajetória, nascido e criado no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo.
Meu pai "foi e nunca mais voltou" quando eu tinha uns 13 anos de idade, minha mãe que até então era dona de casa, virou empregada doméstica pra por comida na nossa mesa.
Eu era estudante e virei office boy aos 13 anos, num escritório de contabilidade na Praça da Sé. A partir dai foi uma constante luta pela sobrevivência.
Nasci pra ser mais um, que limita seus sonhos pra cuidar da realidade, mas a literatura fez nascer um algo mais improvável, virei escritor no ano de 2000 quando lancei independente, numa época de vacas magríssimas, meu primeiro livro, falando dos trens que pegava desde 1985, ou seja, era naquele tempo 15 anos como usuário da CPTM e sabia tudo do assunto quando escrevi O TREM - BASEADO EM FATOS REAIS, depois que lancei não virei artista, segui trabalhando pra por comida na mesa, já era casado com a minha esposa Marilda Borges desde 1998. Só que antes do livro em dezembro de 2000, em março, nasceu meu único filho Evandro.
Lancei um livro e segui pegando trem lotado por mais uns bons 7, 8 anos..... vendendo alimento na zona cerealista. Lutando....
O que aliviou a dureza dos trens lotados por anos a fio era pegar no famoso e temido "último vagão", onde o povo queimava vários baseados e frequentemente a polícia fazia batidas, algumas vezes acompanhados da mídia sensacionalista. Não pegava o trem ali pela maconha e muito menos porque gostava da adrenalina de ser enquadrado pela polícia, pegava simplesmente porque era uma festa todo dia, de manhã (acreditem, trem das 7h no Itaim) e o povo a mil, jogando baralho, fazendo samba na sexta, a tarde compartilhávamos um única latinha de cerveja nos dias fora de pagamento, todo mundo duro de dar dó, e bebíamos todas nos dias de pagamento e quando tinha um pouco pra gastar, a cerveja gelada era ali mesmo, tempo de muitos camelôs, claro que com um ou outro tinha um fiado salvador.
O crime e as drogas sempre estiveram bem próximos de mim, usei cocaína por mais de uma década, mesmo nunca tendo feito nada errado pra pagar meu vício, nem roubado, nem vendi droga, só usei, com meu dinheiro, o pouco que eu ganhava.
Tive amigos bandidos e traficantes, vários..... mas nunca me envolvi, nunca fiz parte da quadrilha, eram só amigos de favela, de beira de campo, vizinhos.
Larguei as drogas porque encontrei coisa melhor na vida, falo da minha namorada, que virou noiva e depois esposa, o amor pela Marilda me salvou, somado a isso a vontade de dar a volta por cima e a minha aproximação 98, 99... 2000 e principalmente a partir de 2001 com o HIP HOP, nunca fui da São Bento, apesar da época que eles se reuniam lá, eu passava muito no local, sempre trabalhei no centro, infelizmente não "trombei" com a roda de pessoas que escreviam a história do início do Hip Hop no Brasil, certamente teria me envolvido antes se tivesse tido esse encontro.
Passei a prestar atenção no RAP com o CD "Sobrevivendo no Inferno" dos Racionais Mc´s e também o CD "Usuário" do Planet Hemp, que era rap/rock. Como tudo que me envolvia eu pesquisava (sem existir internet naquele tempo) sobre o assunto, lendo revistas, jornais e o que mais pintasse sobre o assunto, cheguei as Grandes Galerias, entrada pelo Largo do Paissandu e a outra ponta na Rua 24 de Maio. Ali no Sub-Solo se respirava Hip Hop, lá tinha a parada obrigatória (pra mim) na Porte Ilegal do Dário, onde comprava Cd´s e servia de faculdade de Rap, ali conheci Nego Chic e tantos outros pilares da cultura, os militantes e alguns artistas.
A partir dai, casamento, filho, meu primeiro livro, encontro com o Hip Hop e a literatura, passei a viver e não apenas sobreviver, passava tempos de pouquíssima grana no bolso, usando cheque e cartão de crédito (pra comer) emprestados dos cunhado (a), até limpar meu nome e ter de novo crédito.
Mas a partir de 2000, filho e livro..... eu nunca mais fui o mesmo, minha vida mudou da água pro vinho.
Foram inúmeras conquistas que se listasse tudo aqui, daria um livro (que já escrevi, com minha trajetória)....... mas se for pra listar 10 coisas que me transformaram de uma vida comum e previsível numa pessoa que alguns chamam de referência, um dos ícones da Literatura Marginal, até fã tenho alguns.... essas 10 coisas seriam.....

1 - Minha esposa Marilda
2 - Meu filho Evandro
3 - Ter escrito um livro em 98/99 e lançado em 2000.
4 - Os outros 10 livros que lancei depois, até aqui.
5 - Os 7 livros coletâneas literárias que organizei, até aqui.
6 - O filme Profissão MC que fiz em 2009
7 - O trabalho na mídia impressa (Revista Rap Brasil e Jornal Boletim do Kaos) e televisiva (TV Cultura e TV Globo).
8 - O evento "Favela Toma Conta" no Itaim Pta, 28 edições, até aqui.
9 - A minha LIVRARIA SUBURBANO CONVICTO, única do país especializada em Literatura Marginal no país. Desde 2007.
10- O "Sarau Suburbano" que a 5 anos realizo.

Foram muitos momentos, conquistas e viagens nesses 15 anos de carreira.... todos ajudaram a escrever meu nome na história do Hip Hop e principalmente na Literatura Marginal, mas o TOP 10 das minhas realizações está acima....
Hoje existe um exército de escritores, me orgulho de ter inspirado alguns deles....
Sou gladiador nato, maloqueiro e minha disposição pra fazer acontecer, não tem limite.
Se for pra sonhar, que a gente possa sonhar alto e realizar com os pés no chão e acordado, sem perder a humildade jamais, nunca se tornar mais artista que militante.
Eu sou, eu posso, eu quero.... outras conquistas virão.... mesmo que a mídia não cubra, mesmo que as barreiras parecerem intransponíveis, vou seguir..... metendo o pé na porta e indo buscar minha cota.
O que não mata, fortalece.

Alessandro Buzo
Maio/2015.

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