Buzo 10 Anos de Carreira - História 8

Por Alessandro Buzo

Vamos voltar a falar de literatura.
Falei do começo difícil, da superação, de como me envolvi em outras cenas e agora é hora de voltarmos a minha carreira de escritor, o que acredito que é a principal de minhas funções sem desmerecer nenhuma outra, no mínimo é a que me resgatou, disso tenho certeza.
Lancei "O Trem - Baseado em Fatos Reais" (independente - 2000), 4 anos depois (época de dificuldades financeiras que beiravam o desespero), lancei pela Edicon meu segundo livro "Suburbano Convicto - O Cotidiano do Itaim Paulista", histórias reais vividas por personagens ficticios, as de verdade eu e meu amigos vivemos no Jardim Olga onde cresci no Itaim Paulista.
Em 2005 participei do livro "Literatura Marginal - Talentos da Escrita Periférica", organizado pelo Ferréz, lançado pela Editora Agir.
Quem comprava meu segundo livro queria o primeiro e ele não existia mais, todos falavam: - E o livro do trem ?
Então em vez de relançar eu preferi reescrever, afinal 5 anos se passaram e continuava tudo igual, queria ser menos romantico e mais critico, também pela Edicon, pagando hora em dinheiro, outras em alimentos que mandava do meu emprego na zona cerealista e pagava a firma em parcelas (2 ou 3), a editora recebia alimento e eu divida e livros. Fui a luta, não tinha outra opção, até tinha mais era o fracasso.
Lancei em 2005 meu terceiro livro com o mesmo tema do primeiro "O Trem - Contestando a Versão Oficial".
Vendia uns, doava outros para bibliotecas, cota da imprensa do meu bolso.
Fui traficando informação, como viram nas histórias anteriores, fui fazendo outras coisas, viajando pelo Brasil.
Escrevendo meu nome na história, acho que se morrer terei feito de tudo na vida, plantei arvore, tive filho e lancei livros.
Mas queria algo novo, todos meus livros eram baseados em histórias reais, queria saber se tinha talento para um tema menos jornalistico e mais literário, um livro 100% ficção e comecei a por no papel uma idéia minha, falar de uma mulher viciada em crack.
Lancei pela terceira vez pela Edicon, digo que independente porque a Edicon era isso, eu distribuia, vendia. Em 2006 (desde 2004 lançando um livro por ano), saiu o "Guerreira" na versão independente, a capa era do Sérgio Gag, viria a ser lá na frente diretor do quadro "Buzão" na TV.
Ai foi foda, rodaram a capa errada, sem sombra no titulo, o que quase fazia ele sumir, o GAG ficou bastante decepcionado e eu não tinha o que fazer, lançamento marcado, ou entro numa treta direta com a Edicon, que não assumir o erro, devolver tudo e não lançar, resolvi que ia assim mesmo, afinal a capa ainda era muito bonita e assim foi.
Mas um ano depois, com o mesmo "Guerreira", cheguei a uma grande editora, o livro foi relançado pela coleção Literatura Periférica da Global Editora.
Hoje sei que editora é mais status que dinheiro, mas foi importante estar nas livrarias de todo Brasil, por uma editora de peso que tem entre seus titulos, Lima Barreto, João Antonio, Moacir Scliar, Ignácio de Loyola Brandão, Patativa do Assaré entre outros. Era uma vitória. Prefácio de Marcelino Freire, cabra da peste.
Aproveitei e lancei numa livraria na paulista, outro sonho. Foi na Nobel do Shopping Center 3 na mega avenida de São Paulo.
Também em 2007, depois de uma reunião e apoio firmado na Ação Educativa, surgia uma coletânea literária organizada por mim, o Vol I se chamou "Suburbano Convicto - Pelas Periferias do Brasil" e trouxe vários autores de 7 estados.
Participei ainda de uma coletânea de poetas da Cooperifa (tradicional sarau na zona sul de SP, sempre que posso estou por lá), o livro chamasse "Rastilho de Polvorá".
Fiz prefácio da primeira edição de "Graduado em Marginalidade" do Sacolinha, de "Trokando Umas Idéias e Rimando Outros" de Walter Limonada.
Então em 2008, a convite da Heloisa Buarque de Holanda, lancei pela Coleção Tramas Urbanos da Aeroplano Editora, o livro "Favela Toma Conta" que é a minha tragetória por mim mesmo, contra capa trás Xico Sá, considero esse livro que lê agora, apesar de outro titulo, o "Favela Toma Conta II".
O livro foi lançado em grande estilo, numa festa no Estúdio da DGT Filmes, que desde pouco estava sendo administrado pela galera da Traquitanas que está lá até hoje. Lançava o livro "em casa" no Bixiga, trabalhava e fazia o "Buzão" da TV Cultura com a DGT (ainda é assim), hoje tenho a Livraria Suburbano Convicto no prédio, que fica na Rua 13 de Maio.
A coleção tem patrocínio da Petrobrás e recebi um cachê pela publicação, quando conquistar meu sonho maior de vida, comprar uma casa. Vou lembrar que esse cachê foi a primeira grana na vida que guardei. Antes disso nunca tive condições de poupar.
A Heloisa Buarque de Holanda é uma grande amiga hoje, inclusive estou escrevendo outro livro para coleção: Hip Hop - De Dentro do Movimento. Fizemos palestra juntos no Fórum Social Mundial , 2010 em Canoas-RS.
Lancei ainda em 2008 o VOL II da Coletânea que passou a se chamar apenas "Pelas Periferias do Brasil", de novo autores de vários estados.
A coletânea nesse vol II ganhou o Prêmio Hutúz na categoria "Ciência e Conhecimento", meu BI, pois ganhei ano anterior por "Guerreira", mas tem uma história especial, meu filho Evandro Borges estava comigo no Canecão e tinha uma convicção que ganhariamos, ainda apontei o DJ Raffa e disse: - Aquele cara ali vai ganhar, ganhei ano passado, ele é bom.
Na verdade queria preparar o terreno para ele não se decepcionar.
Quando o ator André Ramiro e a Adriana Lessa anunciavam os indicados da categoria, o Evandro olhou pra mim, seu olhos brilhavam, ele disse: - É agora pai, vamos ganhar.
- E o vencedor é "Pelas Periferias do Brasil", peguei ele pela mão e fomos buscar o caneco, assim que o André Ramiro me deu o troféu, passei pro Evandro e disse: - É seu !!! Colou vários autores no palco e foi incrivel.
Um momento inesquecível, Dudu Nobre deu um salve, tinha conhecido ele ano anterior e ele leu "Guerreira": - Quero ler essa também !!! Disse ele.
Em 2009 escrevi muita coisa, mas não lancei nenhum livro meu, mas a já tradicional coletânea não poderia faltar, lancei em novembro de 2009 o "Pelas Periferias do Brasil - VOL III", a periferia tem voz ativa.
Nesse ano de comemoração dos meus 10 anos de carreira, são tantos projetos em andamento na literatura, que não sei quantos vão concretizar, e quantos vão aguardar, mais tem duas coletâneas prevista, o VOL IV do "Pelas Periferias..." que tem apoio do Centro Cultural da Espanha e da Ação Educativa e portanto sai, é garantido.
Uma coletânea inédito só com as mina, vai se chamar "Mulheres na Escrita" e terá 10 autoras, estamos buscando recursos e fechando com alguns nomes.
Tem meu primeiro livro infantil que está pronto, só falta definir editora ou lançar independente "Dia das Crianças na Periferia" que traz ilustrações de Alexandre de Maio.
Do Conto à Poesia, que tem os textos definidos. Aguarda viabilizar o projeto.
Estou escrevendo "Hip Hop - De Dentro do Movimento" que terá entrevistas e depoimentos dos maiores icones do Rap Nacional, já tem editora definido (Aeroplano) e sai no final de 2010 ou início de 2011.
Além de novos projetos ainda na mente, deixa a fila andar e anuncio mais coisa.
Boa leitura, a periferia tem livros e escritores e a elite treme.
Não acredita, vai em um dos sarais espalhados pelas quebradas da sul, leste, oeste, centro, norte. Muitos em bares, antigamente litros, hoje livros.
Dizem que sou referência dessa cena, ao lado de nomes como Ferréz, Sérgio Vaz, Sacolinha e outros, mas só posso agradecer, como diria o dito popular: - Não mereço mais agradeço.

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