domingo, 6 de novembro de 2011

Meu Bom Lugar.




São oficialmente 38 kilometros do centro de São Paulo, quase 500 mil habitantes.
Sabe de onde estou falando ?
ITAIM PAULISTA, extremo leste de SP.
"MEU" bom lugar.
Nasci e cresci nas ruas do bairro.
Cheguei ao Itaim Paulista ainda bebê, quando a Rua Cinco no Jardim Olga não tinha nem asfalto, 1972.
Viver ali nos anos 70 era parada dura, no final da decada (79) eu passei a estudar na Escola Municipal Antonio e Arthur Begbie no Jardim Campos.
Bons tempos, amigos e brincadeiras.
Ser criança naquele tempo era tão bom quanto hoje, mas as brincadeiras eram esconde-esconde, pula mula, pião, pipa, BOLA, carrinho rolemã.
Mas ser adolescente nos início dos anos 80 era mais difícil. A polícia fazia marcação serrada no Jardim Olga, quando descia a rua, sempre subia com uns 3 no camburão.
Naquele tempo o que bastava pra ir falar com o delegado, era "cheiro" de maconha na mão, não precisava nem do flagrante, se a mão estivesse cheirando era DELEGACIA, 50a DP.
Mano, quantas lembranças. Os que fumavam maconha na nossa infância era tido por nós (crianças) como bandidos.
Nos anos 80 era outra fita, outra cena.
1985 comecei a trabalhar na Sê e conheci o TREM, cara de lata.
Quanto trem lotado eu peguei (15 anos no horario de pico), quantos amigos, namoradas, pagodes, enquadro da polícia atrás de erva.
Mas o barato ficou mais sinistro nos anos 90, eu e uma turma de amigos passamos a fumar mesclado (mistura de maconha com CRACK), devastou a rapaziada, o Crack quando chegou matou rapidamente muita gente, ou por morte decorrente do uso, ou dívida com traficantes, roubos pra sustentar o vício.
Nunca roubei ou trafiquei pra sustentar meus vícios, sempre trabalhei desde os meus 13 anos de idade.
Usei droga (cocaína, depois mesclado) por alguns anos.
O que me tirou das drogas foi ter conhecido a minha hoje esposa (13 anos) Marilda Borges e a aproximação com o Hip Hop.
Os dois fatores juntos me livraram da morte, porque usando droga acho que não estaria aqui hoje pra lhes contar essa história.
De tanto pegar trem no Itaim Paulista pro centro e na volta o caminho contrario de volta a quebrada, que escrevi um livro: O TREM - BASEADO EM FATOS REAIS.
Casei em 1998 e já não usava droga a dois anos. Então faz 15 anos que estou limpo.
O livro lançado independente venho pras ruas em dezembro de 2000. Minha vida mudou.
Sem saber eu começava ali a trilhar a Literatura Marginal e o Hip Hop.
11 anos depois, lancei um monte de livros, 9 meus e 6 coletâneas que organizei.
Fui diretor de um filme, trabalhei 3 anos na TV Cultura apresentando a periferia num quadro no Manos e Minas, e agora sigo nessa missão, mostrar a cultura da periferia na TV, mas só que no SPTV da GLOBO.
Muda tudo no sentido que agora "todo mundo vê" e nas ruas a repercussão é enorme.
Esses dia um vizinho no Itaim Pta me apresentou pra uma mulher: - Olha o mano do SPTV.
Acho importante ser um referência positiva pros moleques das quebradas, senão for a "gente" ..... os menino vão admirar os bandido, que tem moto, dinheiro, roupa de marca. VC mostrar que é possível (não disse fácil), mas é possível se destacar pelo lado do bem, evita que amanhã o menino talentoso esteja clonando cartão, explodindo caixa eletrônico.
Mas o que predonina no Itaim Paulista ou em qualquer outra quebrada é gente do bem, povo trabalhador.
Sofre nas condução lotada, trabalha de mais e ganha de menos, mas com fé em Deus e bom humor, segue a vida, sempre pra frente.
Amo a periferia, amo minha quebrada querida, morei no Jardim Olga (20 anos), Encosta Norte (7 anos) e Jardim Camargo Velho (uns 15), se duvidar é só fazer o DNA.
Foi a partir do Itaim Pauliusta que cresci e me tornei hoje um escritor, cineasta e apresentador de TV.
Não perco nunca minhas raízes, estou sempre no Itaim Paulista, minha casa continua lá, os amigos. Meu compromisso a 8 anos, fazer o "Favela Toma Conta" no dia das crianças no Itaim, segue firme e forte, esse ano foi de novo inesquecível.
Na várzea o coração é DA ROCHA F.C.
Enfim, são muitos sentimentos e momentos vividos pelas ruas, becos e vielas do Itaim Paulista, amo esse lugar, MEU BOM LUGAR.
E tudo começou no ultimo vagão do trenzão. Quando as estações não eram modernizadas.

Alessandro Buzo
100% Itaim Paulista


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