quinta-feira, 2 de abril de 2015

Entrevista "exclusiva" com Alessandro Buzo.

Buzo é a voz legítima da cultura periférica
Por:
Juca Guimarães
juca.guimaraes@diariosp.com.br

FONTE: http://www.diariosp.com.br/blog/detalhe/28894/buzo-e-a-voz-legitima-da-cultura-periferica



O escritor, cineasta, ativista cultural e apresentador Alessandro Buzo, 42 anos, é responsável pelo engrandecimento da cultura periférica em diversas frentes: cinema, literatura, poesia, música, são algumas delas. Buzo é um guerreiro incansável na luta por mudanças sociais na cidade de São Paulo.
Durante três anos, aos sábados, ele levou ao ar na TV Globo amostras de experiência culturais que deram certo nas periferias. Morador do Itaim Paulista, no extremo leste "onde o sol nasce", Buzo é uma figura agregadora e tem um talento especial para transformar sonhos em realidade. Foi assim com o festival Favela Toma Conta, com a livraria Suburbano Convicto e com o sarau às terças-feiras, que ele divide com o escritor, artista plástico e poeta Tubarão DuLixo. Confira a entrevista exclusiva com o Buzo falando sobre seus projetos futuros. Para acompanhar o turbilhão de novidades na vida do Buzo, o melhor canal é o blog www.buzo10.blogspot.com, que ele atualiza diariamente.


Você é do Itaim Paulista e lá sempre teve uma ausência grande do poder pública. Do sei tempo de adolescente até agora, o que mudou?
O que mudou é que cresci no Itaim Paulista nos anos 70/80 e naquele tempo não tinha nada literalmente. Hoje falta muita coisa, mas tem asfasto, bancos, comércio, escola de samba, projetos culturais. Falta investimento do poder público e privado, mas hoje teve uma certa modernização, mas é meio falso, o cara na quebrada tem IPhone, mas é tão falso quanto peito de silicone. Porque te vendem que você precisa ter coisas que não pode comprar, como Iphone, tênis Nike, carro e etc. Mas trabalhando demora, o crime é "ainda" a opção, o caminho mais "fácil" e o fim continua sendo sempre trágico.

O que ainda precisa mudar?
Os políticos roubarem menos e dar mais dignidade ao povo da periferia, saúde digna, transporte melhor e é claro, educação. Mas em vez disso, só nos mandam a polícia e os panfletos na eleição.


Ter um quadro na Globo e falando sobre periferia de forma positiva foi um marco na TV. Você também vê assim?
Acho que sim, três anos, 147 quadros exibidos, sem sensacionalismo, foi um marco e tanto. Não sei se iremos arrumar uma nova casa, mas me sinto com sensação de missão cumprida. Precisava mostrar que não é só crime e droga, mostramos isso com certeza. Pena que acabou, mesmo sendo um sucesso absoluto.

Na época da Globo, o assédio foi muito grande? Como você lidava com isso?
Até hoje é grande o assédio, lido dando atenção a todo mundo que me encontra na rua, do mais humilde ao cara que nem sabia que existia tanta coisa bacana, a periferia se sentia representada e quem não era da periferia, também curtia. Nas ruas é muita gente que me parabeliza, falam o bordão "É Nóis q tá"..... acho da hora, tiro foto, dou atenção.

Quando foi ao ar o seu último quadro na TV Globo?
Foi pro ar em setembro de 2014, já se passou 6 mêses do fim, depois de 3 anos no ar.

Você ficou chateado com a TV Globo, por acabar com o quadro mesmo sendo um sucesso?
Magoado não, nos três anos de SPTV eu me estruturei, comprei um terreno e construí uma casa. Ou seja, fiz bem meu trabalho e o que ganhei com isso, realizou meu sonho de vida. Mas foi bom pra eles ter alguém como eu na programação nos protestos de 2013, na possibilidade de protestos na COPA 2014. Porém, depois que passou a turbulência, ter um representante legítimo da periferia não era mais tão importante.


Das coisas legais que você descobriu na periferia, o que mais te marcou?
Primeiro que a maioria eu não descobri, já conhecia e eles me conheciam também, antes de ser o "cara da TV" eu sou escritor e militante, tinha passe livre nas quebradas, não por causa da Globo, mas pela minha trajetória. Alguns quadros marcaram bastante. A primeira vez do Edi Rock na Globo foi no meu quadro, gravei na cadeia com o Dexter, em algumas ocupações, teve o quadro do Festival Moinho Vivo na favela do Moinho. Não sei se acabou porque a Globo aprendeu o caminho ou se acharam que mostraram demais.


Você tem a livraria Suburbano Convicto, no Bixiga, conta a história da livraria? É a única especializada em Literatura Marginal?
Infelizmente é a "única" do país, especializada em Literatura Marginal, queria que tivesse outras. Ela nasceu no Itaim Paulista, ficou três anos lá no vermelho, quando iriamos fechar as portas.... pintou a possibilidade de ir pro Bixiga e apostamos, acho que deu certo, não é fácil manter a livraria, mas ela não fica mais no vermelho. Estamos na região central e vem gente de todas as regiões. Agora em abril completaremos oito anos. Ainda é luta, resistência... mas "nóiz" capota, mais não breka. Vendemos pra todoBrasil pelo site www.livrariasuburbanoconvicto.blogspot.com

Você também promove um sarau às terças, não é?
O Sarau Suburbano é semanal, toda terça e a entrada é gratís, em maio o Sarau Suburbano completa 5 anos. A DGT Filmes está fazendo um filme sobre nosso sarau e vai se chamar CONVICTO. Confere nosso blog: www.sarausuburbano.blogspot.com

Essa cultura dos saraus veio para ficar nas periferias?
Nem eu sei mais te dizer quantos saraus existe na cidade, são muitos, mais de 100 certamente. Nem todos vão sobreviver depois da febre, mas boa parte sim. Então acho que venho pra ficar.

Como foi o processo para fazer o filme "Profissão MC"? Como surgiu a ideia?
Eu estava trabalhando na DGT Filmes e sempre dizia: - Quero fazer um filme na minha quebrada, não tinha roteiro, só argumento. Sempre me diziam: - Precisa do roteiro, precisa captar dinheiro. Falei tanto no assunto que um dia o Toni Nogueira [dono da DGT] disse: 'vamos fazer eu e você, com essa câmera', era uma pequena câmera HD. Não sabendo que era impossível, fomos lá e fizemos, sem captar um único real.

O filme traz o rapper Criolo como protagonista e um tempo depois ele estourou em todo o país. Atualmente, é um dos mais talentosos e politizados artistas da MPB, como surgiu a ideia de convidá-lo para o filme e porque você o escolheu?
Era o Criolo Doido, antes de ser o Criolo. Chamei ele porque precisava ser um MC de verdade e não um ator, além do mais precisava ser um cara das ruas, o Criolo Doido promovia a Rinha dos Mc´s, convidei e ele aceitou. Fico feliz com o sucesso posterior dele, puro merecimento.

Você promove o Festival Favela Toma Conta. Qual a história e os objetivos deste festival?
O objetivo sempre foi um dia de show gratuitos na quebrada, Itaim Paulista. Nasceu na rua da minha casa (as duas primeiras edições), depois andou pelo bairro, no CDHU fizemos todos os Dia das Crianças desde 2004. No início eram 3 a 4 edições por ano, de uns tempos pra cá virou anual, em 10 anos (até 2014) foram 28 edições. Dia 12 de Outubro tem mais. Aguardem.

Quais os seus planos para o futuro?
Arrumar um espaço na TV, continuar lançando meus livros e fazer outros filmes. Além de manter o Sarau, o festival Favela Toma Conta e a livraria. Mas só até eu completar 50 anos (daqui a sete anos e meio), depois disso quero trabalhar bem menos e vou morar no Litoral Norte onde construi uma casa.

Você acha que este ano o seu Palmeiras vai se destacar? O time melhorou de 2014 para cá?
Nem se compara, o time me fez sofrer muito nos últimos anos, mas 2015 acho que ganharemos pelo menos o Paulistão.

Seu filho Evandro joga futebol. Você está preparando ele para ser um craque do Timão ou do Verdão?
Ele ama jogar futebol, treina numa escolinha, mas é muito menino com o mesmo sonho. Deixo ele sonhar e apoio, mas sempre falo pra ele estudar, que a chance de virar jogador profissional é um em um milhão. Meu filho é minha maior alegria, amo ele demais. Ser um pai presente é meu maior projeto de vida.

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