quarta-feira, 25 de julho de 2012

DIA DO ESCRITOR

LITERATURA MARGINAL DOS TEMPOS MODERNOS
Por: Alessandro Buzo




Sempre li muito jornal impresso, num deles que uma vez vi o anuncio de um livro que falava de periferia, no caso do Rio de Janeiro.
A matéria falava do livro CIDADE DE DEUS do Paulo Lins.
Pensei que da hora, livro sobre uma favela ? Fiquei curioso.
Passei a procurar em algumas livrarias, achei em uma por R$ 35,00. Naquele tempo o dinheiro era muito pouco no bolso e acabei não comprando, mas pra frente ganhei da minha esposa e do meu filho num aniversário.
Depois de ouvir falar desse livro, vi uma reportagem sobre o Ferréz, um escritor do Capão Redondo que lançava o livro Capão Pecado.
Lembro que eu procurava como publicar meu primeiro livro e vendo a matéria do Ferréz pensei: - Se o cara é lá do CAPÃO, porque eu que sou do Itaim Paulista não posso ?
Capão é periferia, extremo sul de SP e Itaim no extremo leste. Mas é tudo periferia.
Acabei conhecendo o Ferréz quando fui entrevistar ele pro Jornal Pagina 1, jornal de bairro do Itaim Pta.
Eu já tinha lançado meu primeiro livro: O TREM - BASEADO EM FATOS REAIS (dezembro/2000).
Ficamos amigos, surgiu o convite pra escrever um conto na Revista Caros Amigos/Literatura Marginal.
Foram 10 autores publicados, entre eles Sérgio Vaz, que numa matéria na RAP BRASIL eu fiquei sabendo que tinha um movimento chamado Cooperifa e eles estavam sem sede, procurando uma casa, acabaram indo fazer o SARAU DA COOPERIFA, no Bar do Zé Batidão, que frequentei várias vezes.
O tempo passou de quando um escritor da periferia era tipo um ET, uma pessoa que não deveria existir.
Surgiram vários outros Saraus na cidade de São Paulo.
Algumas editoras lançaram coleção como a Global Editora que lançou Alessandro Buzo, Sérgio Vaz, Sacolinha, Dinha, Allan da Rosa e GOG.
Teve a Aeroplano Editora do Rio de Janeiro que lançou 20 títulos pela coleção Tramas Urbanas, com temática de periferia. Por essa coleção lancei 2 títulos, Favela Toma Conta e HIP HOP - DENTRO DO MOVIMENTO.
Mas a cena não ficou só nas grandes editoras, Ferréz lançou livros pela Objetiva, MV Bill lançou 3 livros.
Só que tinha muito mais, surgiu um exército das letras, vários manos e minas que de uma forma ou de outra publicaram seus livros, uns com dinheiro do bolso (100% Independente), outros tantos de outras formas, com dinheiro do VAI (PMSP), PROAC (Governo do Estado de SP) e por ai vai, com apoio da ONG Ação Educativa e cada um a sua forma, foram surgindo titulos e autores.
A cena cresceu, hoje é grande e não é só quantidade, muita qualidade.
Coletâneas literárias de periferia foram várias, 5 volumes do PELAS PERIFERIAS DO BRASIL que eu organizo, Rastilho de Pólvora da Cooperifa, LITERATURA MARGINAL - TALENTOS DA ESCRITA PERIFÉRICA que o Ferréz organizou e lançou pela Agir Editora.
Saraus lançaram coletâneas com seus poetas, Elo da Corrente, Sarau da Brasa, Sarau Suburbano, Sarau da Ademar, Perifatividade.
Livros, livros e mais livros.
O LITERATURA MARGINAL da Caros Amigos foram 3 edições.
Enfim....... hoje não é fácil contar quantos livros e autores temos, mas somos muitos.
Pesquisas sobre o assunto como o livro VOZES MARGINAIS NA LITERATURA da Erica Peçanha apareceu.
A cena deixou São Paulo e virou nacional, autores publicando no Rio de Janeiro, Recife, Brasília.
A Literatura Marginal é uma realidade, podem não gostar, podem rotular, mas é só literatura.
Autores da periferia, nem todos assumem o nome de MARGINAL, uns preferem periferica, divergente, mas é só LITERATURA.

Alessandro Buzo é escritor
www.buzo.com.br

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