quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Minhas memórias de viagem

Sobre a 1a CARAVANA DA POESIA
Por: Paulo D'Auria
do coletivo "Poetas do Tietê"


FALLET
Por 60 centavos, em um bonde turístico, se alcança a colina que esconde a boca do inferno. Uma curva na estrada de pedra, uma escadaria de 77 degraus e um largo onde o moderno cão cérbere não ladra, em silêncio observa os visitantes, fuzil em punho. Não entendo de armas, não sei se é AR-isso, ponto-aquilo ou a puta que pariu. Sei que mata.
Outra escada, mais estreita, nos leva ao primeiro círculo do inferno. Sete diabos guardam sua porta em cadeiras e mesas de plástico. As armas são exibidas como com orgulho, feito caralhos do diabo.
A noite começa a cair, fotografias são proibidas, não há registro do que os olhos pensam ver.
O refrigerante barato é gratuito, oferta dos donos da boca. Um delicioso e enorme bolo é servido pa ra toda a comunidade. O demônio cozinha bem.


CHÁCARA DO CÉU
Aos céus se sobe de kombi. Mas kombi, se quiser chegar aos céus, primeiro precisa embalar nas ladeiras mais íngremes da terra. Perdeu o embalo, a ré pelos caminhos de beira de precipício garante que ninguém chegue ao céu sem ao menos uma ave maria.
No paraíso a comida é servida na chegada: galinhada e pudim de leite de mãe. Os anjos cozinham bem.
Do firmamento avistamos a terra e o inferno inteiros. E, das alturas, tudo parece tranquilo. Nada abala a serenidade dos anjos.
A noite começa a cair, aqui nada é proibido, mas as câmeras não podem registrar o que os olhos sonham imaginar: no inferno, no céu e na terra, tudo vira estrela.
Na hora da partida, a lotação vira carrinho de montanha russa. Os poetas levantam os braços e gritam feito crianças em um parque de diversões.

A terra cada vez mais perto. Jamais seremos os mesmos Dante(s).

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